segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O valor das emoções

O desenvolvimento da criança consiste num longo e complexo processo, trazendo aos pais diferentes desafios, consoante as diversas fases desse desenvolvimento.
Cada idade apresenta dificuldades e conflitos específicos. Algumas etapas são mais difíceis do que outras, exigindo dos pais maturidade, flexibilidade e tolerância. Na verdade, aprendemos a ser pais no exercício da maternidade/paternidade.
Cada momento do ciclo da vida tem uma importância definida. Conviver com os pais, no dia-a-dia, é um importante factor de formação e desenvolvimento da criança. No entanto, por causa da correria e da falta de tempo comum a tantos de nós, esta convivência é cada vez mais rara.
Diariamente chegam-me à caixa do mail dezenas de informações da mais variada procedência e com todo o tipo de informação. Normalmente, confesso, apago tudo sem ler. No entanto, há dias, recebi um mail que, pelo seu título, me chamou de imediato a atenção levando-me a abri-lo: “O Valor das Emoções”. Dizia assim:
“ Numa reunião de pais a directora falava do apoio que estes deviam prestar aos seus filhos; pedia-lhes também que estivessem presentes o máximo de tempo possível no seu dia-a-dia... Entendia ela que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade trabalhassem fora, deveriam encontrar um tempo, ainda que curto, para estarem com os seus filhos.
Perante a surpresa da directora, um dos pais presente levantou-se e explicou, de uma forma humilde, que não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo durante a semana, porque quando saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava a dormir... Quando voltava do serviço já era muito tarde e o garoto já não estava acordado.
Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para prover o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho, e que tentava redimir-se indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa. E, para que o filho soubesse da sua presença, dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó sabia, através dele, que o pai tinha estado ali e o tinha beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles”.  
Tocar e sentir-se tocado, mesmo que seja por um “nó no lençol”, é muito importante para o desenvolvimento da criança. Pode provocar, alegria, ternura, amizade, amor, medo, compaixão, raiva, agressividade… E, nesta curta história, o facto mais importante é que o filho percebia, através do “nó afectivo”, o que o pai lhe estava a dizer, porque os sentimentos “falam” sempre mais alto que as palavras!
A presença física e afectiva do cuidador é essencial à saúde mental do ser humano. A criança ao vivenciar uma relação calorosa, íntima e contínua com a mãe, com o pai ou outro cuidador, encontra uma satisfação e um prazer indispensável ao seu desenvolvimento. Os psiquiatras infantis, ao examinarem as possíveis causas dos transtornos mentais na infância, percebem que as situações que predispõem a uma incidência significativamente elevada desses casos acontecem mediante a falta de oportunidade da criança para estabelecer vínculos afectivos duradouros.
Infelizmente estamos a dar demasiada importância ao desenvolvimento cognitivo da criança, não se estando a fazer uma correcta ligação entre aquele desenvolvimento e o emocional, começando a existir sinais preocupantes em termos das consequências que poderão vir a ter nas gerações futuras.
Segundo António Damásio, as aptidões das novas gerações estão-se a desenvolver a uma maior velocidade, face às suas capacidades emocionais. Estamos muito mais preocupados no “aprender coisas” do que em “conhecer sentimentos”. As crianças, afectadas nos seus sistemas emocionais, nos primeiros anos de vida, vão ter muita dificuldade em aprender as convenções sociais do mundo adulto estando, em consequência disso, a surgir, cada vez mais, patologias sociais nomeadamente a dependência de drogas, álcool…, em crianças em idade escolar.
Motivar e incentivar as crianças a falar sobre os  sentimentos,(os seus ou os dos outros), deve ser praticado desde a altura em conseguem comprender os conceitos de alegria, medo, tristeza, raiva, ciúmes. A criança deve, desde muito sedo, identificar os seus sentimentos, bem como a lidar melhor com eles.
Para que isso aconteça, devemos ter consciência de que o vivenciado pela criança pode não parecer nada para um adulto, mas para ela, no seu universo, é de extrema importância, sendo real. São esses sentimentos e sensações, muitas vezes desprezados pelos seus  pais ou cuidadores, que farão dela um adulto mais ou menos equilibrado, devendo merecer toda a atenção. A criança tem uma capacidade de compreensão muito mais aguçada do que podemos imaginar e, na sua linguagem, devemos estar prontos para o diálogo.
Ao acordar de noite com medo da “bruxa pamonha” ou do “lobo mau”, a criança  (até cerca dos 4/5 anos de idade), está a tentar dizer-nos que algo a atemoriza.Usa o conto de fadas para enviar essa mensagem. Tentar provar-lhe que a bruxa não existe, nem o lobo, nem o monstro é o mesmo que dizer-lhe que os seus medos não existem, e troçar da sua angústia. Na sua linguagem a criança está a querer dizer aos pais, por exemplo, que sente a possibilidade da perda da sua protecção. Melhor será ajudá-la a ter a certeza de que esses "predadores" não estão em casa, abrindo as portas, olhando debaixo da cama juntamente com ela, etc..., e abraçá-la dando-lhe a segurança que procura, esperando que adormeça no conforto de sua protecção.
Ao ficar um pouco mais velha importa incentivá-la não para apenas falar sobre as suas emoções, mas para perceber que ela mesma tem recursos internos para encontar ajuda ou até resolver, por ela própria, as questões que a afligem.
Ao nível da afectividade é importante elogiar os êxitos como forma de recompensa, dizer-lhe o que fazer, em vez do que não deve fazer, explicar e ajudar a encarar os erros como períodos de aprendizagem necessários para o crescimento pessoal e ajudá-la a ultrapassar as dificuldades estimulando as capacidades.
Cabe ainda aos pais e educadores não recorrer à humilhação para manter a disciplina, não ridicularizar a criança, nem sequer na brincadeira, pondo-lhe alcunhas, por exemplo, não fazer comparações, não utilizar a culpa. É importante mostrar sempre atitudes positivas para que a criança se sinta “mais feliz, mais confiante, mais alegre, mais afectiva”.
E concluo com dois pensamentos muito simples. O primeiro inserido no do livro “O Principezinho”, de Antoine de Saint-Exupéry: “Só se vê bem com o coração”; e o segundo: “as emoções são os dirigentes da nossa mente”.

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