quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mediação Familiar (I)

“... cada um via uma coisa diferente, cada um, portanto, tinha razão”.
                                                                        Fernando Pessoa
Há um velho ditado Líbio que diz que “ se vires duas pessoas que se entendem, diz para ti mesmo que há uma que aguenta muito”. Na vida a dois, mesmo que sob o signo do amor, existe, ou existirá mais tarde ou mais cedo, divergência de pontos de vista, discussões e conflitos.
Os conflitos fazem parte da família em virtude desta ser dinâmica e composta por teias complexas de relações entre os seus membros. A história de uma família é marcada por momentos de crescimento, de estagnação, encontro, desencontro e reconciliação.
A existência de antagonismo por si só não é prejudicial às famílias. Os conflitos são essenciais ao ser humano e, se bem administrados, podem promover o seu crescimento.
Para que a criança e o jovem se desenvolvam harmoniosamente, precisam de um ambiente afectivamente equilibrado, onde recebam amor autêntico e onde se lhes permita satisfazer as necessidades próprias da infância e da adolescência como por exemplo: ambientes saudáveis e acolhedores, bons vínculos parentais, condições básicas em termos de habitação, saúde, alimentação, educação e lazer, estímulo constante da auto-estima, e em que sejam aceites como pessoas importantes, com demonstrações de afecto, com respeito, em que a educação transmita os valores e os princípios da cidadania plena.
É sabido que a maioria dos maus tratos físicos e emocionais, a negligência, o abuso sexual, a exposição a comportamentos desviantes, o abandono, surgem, na maioria dos casos, em contextos de reprodução social e em todos grupos sociais, mas com maior incidência nos grupos sociais mais desfavorecidos na sequência de variadíssimos factores de onde se podem salientar as carências económicas, muitas associadas às más condições habitacionais; baixo nível ou ausência de instrução escolar; promiscuidade e; desorganização da vida profissional, social e familiar – ou seja pela ausência de referências de cidadania. As famílias são cada vez menos “comunidades de afectos” e, a falta destes, põem em perigo o desenvolvimento harmonioso da criança.
A criança é um cidadão da sociedade actual, e é nesta actualidade que temos uma enorme responsabilidade para com ela de forma construir-lhe um futuro promissor.
Infelizmente temos demasiadas crianças e jovens em sofrimento e em abandono – neste não é só um abandono por “fora” que está referenciado mas, e mais preocupante, é o abandono por “dentro” que se verifica.
A família é o ecossistema mais importante da vida da criança e do jovem, e o factor protector onde deveria haver mais investimento. Não é por acaso que a larga maioria dos profissionais ligados ao trabalho com crianças apontam, prioritariamente, a família como um elemento de grande importância na promoção da sua qualidade de vida tanto a nível orgânico, como psicológico, moral, social e cultural.

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