segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Família (II)

Os seres humanos nascem munidos de um sistema de vinculação que lhes permite procurar a proximidade de uma figura que lhes forneça protecção, uma base de segurança e uma sensação de confiança, a partir da qual possam explorar o meio, sendo este “laço afectivo” condição essencial para um desenvolvimento mental são e fundamental para a estruturação da personalidade. Para se desenvolverem necessitam de ligações afectivas sólidas que se vão construindo ao longo da infância.
Ligado ao conceito de vinculação está o de figura de vinculação, conceito que, inicialmente, por uma questão de simplificação, se referia exclusivamente à mãe, mas que graças às progressivas definições conhece hoje novas interpretações, sendo conveniente que as crianças tenham várias figuras de vinculação tais como a mãe, o pai, os irmãos mais velhos, os avós, os tios, os educadoras…Esta relação de vinculação é uma construção progressiva: a aptidão inata é modelada no decorrer da interacção com o meio social e distingue-se das outras interacções sociais.
Embalado por recordações de parentalidade, concluo que a vinculação é o laço afectivo que se estabelece entre a criança e uma figura específica - figura de vinculação; que liga a criança e o adulto num determinado espaço que perdura no tempo - relação de vinculação; que se expressa através da necessidade inata de manter a proximidade - comportamento de vinculação e; que permite a construção da sensação de conforto e de segurança, sendo, portanto, essencial ao desenvolvimento pessoal e social do indivíduo.
A criança é um ser autónomo capaz de interagir com o meio desde o seu nascimento, daí a importância da vinculação e da estimulação do meio ambiente para o seu desenvolvimento; é, igualmente, fundamental a sua protecção e requer-se que seja desenvolvida intervenção diversa favorável ao seu crescimento e ao seu desenvolvimento harmonioso.
Há que ter igualmente em atenção, os contextos sócio familiares em que as crianças se desenvolvem e os aspectos que se relacionam com a existência/ausência de ligações emocionais, as quais são passíveis de vir a (in) viabilizar a construção da sua individualidade e autonomia.
Pais existem que só são responsáveis pelos seus filhos “teoricamente”; há crianças que sofrem do chamado “trauma do não dito”, em que ficam entregues a si próprias num mundo de silêncios e de solidão afectiva; há crianças filhas de mães ausentes, deprimidas, desinteressadas e de pais em que os filhos não existem como valor, pensando estes que, pelo facto de lhe darem bens materiais em detrimento da função alimentadora do carinho, compreensão e empatia, que estão a cumprir a sua função parental.
A falta de diálogo com os filhos, a ausência de transmissão de valores, a indiferença existente nas relações intra-familiares propicia uma desajustada socialização. A criança sendo o elemento mais frágil da família, torna-se, por vezes, a vítima directa de violência familiar, ou indirecta por vivenciar relações tensas, de agressão ou conflitualidade.
Tendo por base o que hoje é cientificamente aceite poder-se-á afirmar que “ as necessidades das crianças são inalienáveis, irredutíveis e inquestionáveis”. Assegurá-las deve ser, para aqueles que na saúde, na educação, na justiça... pugnam pelo seu bem-estar uma tarefa prioritária; mas, se o deve ser para aqueles profissionais, mais o deve ser para as suas famílias.

Sem comentários:

Enviar um comentário