terça-feira, 5 de outubro de 2010

“Deus abençoe os maus pais!”

"A mim dá-me pena e preocupação quando convivo com famílias que experimentam a “tirania da liberdade” em que as crianças podem tudo: gritam, riscam as paredes, ameaçam as visitas em face da autoridade complacente dos pais que se pensam ainda campeões da liberdade."  
                                                                                               (Paulo Freire)
             Transcrevi, numa anterior mensagem, um e-mail que recebi e que não enviei para o “lixo”. Pois bem: recebi um outro que, por ser de extrema importância e significado para estas “conversas”, não resisto em transcrever. Infelizmente não faço ideia de quem o construiu pois vinha assinado “autor desconhecido”.
Antes de transcrever o citado e-mail, que tinha por título “Deus abençoe os maus pais”, uma ligeira reflexão sobre a família como espaço fundamental na educação, formação e desenvolvimento da criança.
 O primeiro espaço de crescimento, de afecto, de segurança... para a criança é a família e daí ser o primeiro espaço de educação para a cidadania, porque aqui se constrói a matriz da socialização na vida das crianças. Esta matriz pode funcionar positivamente, (se a família for um exemplo de participação na vida cívica, atenta ao que a cerca e aberta à solidariedade), ou negativamente (se a família for um lugar problemático, de conflito e de vitimização). O que é um facto é que os pais são, sem qualquer dúvida, o pilar fundamental da educação dos filhos.
A primeira “escola da vida” é a família e, através dela, a criança aprende a comportar-se e agir correctamente, desenvolvendo também o respeito pelos outros. Quando a estrutura familiar é fraca, dificilmente a criança consegue progredir dentro da sociedade.
Ajudar uma criança a ser disciplinada não implica severidade ou agressão, implica, isso sim, um diálogo desde cedo, para que aquela deposite confiança nos pais em todas as fases de sua vida, até mesmo na “conturbada” adolescência.
E agora o e-mail que dizia assim:
            Um dia, quando os meus filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva um pai, hei-de dizer-lhes: «Amei-vos o suficiente para ter perguntado: onde vão, com quem vão, e a que horas regressam a casa; Amei-vos o suficiente para ter insistido em que juntassem o vosso dinheiro e comprassem uma bicicleta, mesmo que eu tivesse possibilidade de a comprar; Amei-vos o suficiente para ter ficado em silêncio, para vos deixar descobrir que o vosso novo amigo não era boa companhia; Amei-vos o suficiente para vos obrigar a pagar a pastilha que “tiraram” da mercearia e dizerem ao dono: "Eu roubei isto ontem e queria pagar"; Amei-vos o suficiente para ter ficado em pé, junto de vós, durante 2 horas, enquanto limpavam o vosso quarto (tarefa que eu teria realizado em 15 minutos);  Amei-vos o suficiente para vos deixar ver fúria, desapontamento e lágrimas nos meus olhos; Amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalizações eram tão duras que me partiam o coração; Mais do que tudo, amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO quando sabia que me iríeis odiar por isso».
Estou contente, venci. Porque, no final, vocês venceram também. E, qualquer dia, quando os vossos filhos forem suficientemente crescidos para entenderem a lógica que motiva os pais, vós ides dizer-lhes, quando eles vos perguntarem se os vossos pais eram maus...que sim, que éramos maus, que éramos os pais piores do mundo: «Os outros miúdos comiam doces ao pequeno-almoço - nós tínhamos de comer cereais, ovos, tostas; Os outros miúdos bebiam Pepsi ao almoço e comiam batatas fritas - nós tínhamos de comer sopa, o prato de segundo e fruta; E, não vão acreditar, os nossos pais obrigavam-nos a jantar à mesa, ao contrário dos outros pais; Os nossos pais insistiam em saber onde nós estávamos a todas as horas. Era quase uma prisão. Eles tinham de saber quem eram os nossos amigos, e o que fazíamos com eles; Eles insistiam em que lhes disséssemos que íamos sair, mesmo que demorássemos só uma hora ou menos; Nós tínhamos vergonha de admitir, mas eles violaram as “leis de trabalho infantil” - tínhamos de lavar a loiça, fazer as camas, lavar a roupa, aprender a cozinhar, aspirar o chão, esvaziar o lixo e todo o tipo de trabalhos cruéis. Acho que eles nem dormiam a pensar em coisas para nos mandarem fazer; Eles insistiam sempre connosco para lhes dizermos a verdade, apenas a verdade e toda a verdade; Na altura em que éramos adolescentes, eles conseguiam ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata; Os pais não deixavam os nossos amigos buzinarem para nós descermos. Tinham de subir, bater à porta, para eles os conhecerem; Enquanto toda a gente podia sair à noite com 12, 13 anos, nós tivemos de esperar pelos 16; Por causa dos nossos pais, perdemos imensas experiências da adolescência. Nenhum de nós, alguma vez, esteve envolvido em roubos, actos de vandalismo, violação de propriedade, nem foi preso por nenhum crime. Foi tudo por causa deles».  
Agora que já saímos de casa, somos adultos, honestos e educados; estamos a fazer o nosso melhor para sermos "maus pais", tal como os nossos pais foram”.
Por outro lado, e não querendo que se veja o seguinte como “receita”, aqui ficam algumas ideias que poderão ser postas em prática pelos pais, na edução das nossas crianças. Assim: devemos demonstrar orgulho pelas conquistas dos nossos filhos já que essa atitude é importante para a sua auto-estima; devemos elogiá-los não tanto pelo resultado que levou ao sucesso mas mais pelo processo que a tal levou; devemos tentar estar presentes na vida dos nossos filhos (em casa, na escola, nos eventos desportivos) para que eles se sintam amados e valorizados; ajudar os nossos filhos a atingir os seus objectivos incentivando-os a desenvolver as suas capacidades é, igualmente, fundamental; devemos ter presente que as aspirações das crianças não são as nossas e, com tal, não será de todo correcto projectar as nossas expectativas nas nossas crianças; devemos encorajar os nossos filhos a ser sociáveis e a serem capazes de ter uma posição positiva face a possíveis conflitos; é importante e necessário que valorizemos a imaginação das crianças, aceitemos a sua criatividade e até alguma desorganização “caseira” (mas não a indisciplina); as recompensas são saudáveis, não apenas as materiais (prendas) mas, principalmente, os gestos, os olhares, e as palavras que demonstrem afecto e; devemos abster-nos do uso do sarcasmo para com eles, visto que ainda não têm discernimento para entender esse tipo de humor.

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