sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O brincar e o tempo livre (I)

" Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados mas o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si, permanecerá com ela. ( Jean Piaget-psicólogo)

 Desde o início dos tempos que as actividades lúdicas fazem parte da vida do ser humano.
            Por exemplo, na antiguidade acreditava-se que o desenvolvimento integral do ser humano pressupunha o acto de brincar. Segundo Aristóteles o humano é um “composto” de três aspectos: homo sapiens (o que conhece e aprende), homo faber (o que faz e produz) e o homo ludens (o que brinca e cria). Em nenhum momento, um desses aspectos se sobrepõe ao outro em significado sendo indissolúveis e actuam em cadeia.
Para Vygotsky (1988), as experiências lúdicas contribuem para o enriquecimento e para o desenvolvimento intelectual cognitivo e psíquico das crianças.
Os jogos, os brinquedos e as brincadeiras são actividades fundamentais para a criança dado que favorecem a imaginação, reforçam a confiança, estimulam a curiosidade, promovem a socialização, desenvolvem a linguagem, constroem o pensamento lógico, estimulam a percepção, a concentração e a criatividade.
Ao brincar a criança expressa-se, expressa o seu mundo e a forma como o vê, ao mesmo tempo que recria esse mundo, procurando, inventando e experimentando novas formas de compreensão da realidade e das relações, preparando-se para o futuro e aprendendo formas de resolver as situações que se lhe apresentam.
Nos últimos anos, têm-se assistido a mudanças nos padrões do que é oferecido às crianças em relação ao acto de brincar. Na vida escolar e no quotidiano das crianças há cada vez menos tempo para brincar. Os brinquedos industrializados, a televisão, os jogos de computador, ficaram mais importantes que as brincadeiras baseadas na criatividade e nas interacções sociais.
Mas… as crianças não precisam de excesso de actividades. Precisam da escola, da educação e de momentos livres para que possam brincar e estruturar-se como pessoas. O excesso de actividades tende a gerar ansiedade e desorganização da própria estrutura da criança. Assim os pais e a escola ao definirem as actividades para e com as crianças, devem ter em consideração que o mais importante é que a criança se sinta feliz, já que estando feliz, descontraída, motivada, realizando tarefas do seu agrado, integrada, bem aceite no seu grupo de pares é mais fácil progredir rumo a um desenvolvimento harmonioso.
Muitos pais e educadores preocupam-se em preparar a criança para o futuro. Ora esse futuro prepara-se com um bem-estar no presente, onde se sinta segura, com afecto e onde sinta a sua auto-estima fortalecida.
É de todo importante e fundamental que a criança tenha tempos livres para estar “quietinha”, sossegada e a pensar na sua vida. Hoje em dia as crianças estão sobrecarregadas de actividades não tendo tempo, muitas vezes sequer para perceber os seus desejos. (Não confundir este desejo com o desejo desenfreado, com a falta de limites, com a criança decidir o que fazer ou não).

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