segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Família (I)

“O amor não pode salvar a vida da morte,
mas pode preencher o propósito da vida”Arnold Toynbee

Nesta época em que para alguns a bruma branca do mar é beleza que deslumbra, e em que nem vento nem o mar encapelado os impedem de retemperar vitalidades, reflicto sobre a vida familiar que se deseja renovável a cada desafio do projecto de vida em comum.
Neste projecto de vida em comum importa ter presente que as primeiras interacções na vida de uma criança ocorrem no contexto familiar, podendo ser negativas ou positivas consoante a forma como os factores significativos afectem as dinâmicas no seio familiar.
Existe um maior risco para as crianças quando são expostas a situações de ausência de vínculos mútuos e de afecto como sejam o amor, a confiança, a força, a segurança entre outros, vínculos que deverão ser transmitidos pelos pais e/ou pessoas significativas; quando estão perante um ineficaz apoio parental ou vivem em ambiente familiar caótico; quando são privadas da ausência de relacionamentos significativos com os adultos ou são expostos a comportamentos desviantes e a consumo de substâncias nocivas. Estas situações representam uma séria ameaça aos sentimentos de segurança e de protecção que as crianças necessitam para que tenham um desenvolvimento harmonioso.
Reflectindo ainda sobre a separação e o divórcio e sobre as necessidades das crianças que vivenciam esta situação, poderemos afirmar que aquelas estão relacionadas com sua idade e o seu estádio de desenvolvimento.
Dessas necessidades destacam-se: não ser envolvida no conflito; compreender que não é responsável pela separação; expressar-se a respeito da separação; sentir que os pais são capazes de conversar; conhecer a realidade da continuação do divórcio e; ser informada para entender o que está a acontecer.
As reacções à situação de separação variam consoante a idade.
Assim, podemos verificar que as crianças até aos quatro anos registam: sentimento de confusão, ansiedade, culpa e medo, agressividade mais acentuada, sinais de regressão e fantasia de reconciliação dos pais; entre os cinco e sete anos: sentimentos de tristeza, angústia, abandono, rejeição e medo, sentimentos de culpa pela separação, raiva principalmente em relação a quem tomou a iniciativa da separação, fantasias de reconciliação, saudade do pai ou da mãe com quem não tem convívio diário, possíveis mudanças no comportamento social, aumento ou diminuição da capacidade de concentração com dificuldades em realizar certos trabalhos escolares; entre os oito e doze anos: profundo sentimento de perda, rejeição, solidão e vergonha, aparecimento de fobias, insegurança e perda de confiança, sentimento de cólera intensa pelos pais sendo um visto como bom e o outro como traidor, negação dos seus sentimentos, falsa imagem de segurança e tranquilidade, sentimento de lealdade, aumento dos sintomas psicossomáticos; entre os trezes e os dezassete anos: sentimento de responsabilidade em relação à casa e irmãos, sentimento de cólera, insegurança diante da dificuldade financeira dos pais, sentimento de confusão diante do comportamento imaturo dos pais, revolta com o comportamento sexual dos pais, dificuldade de aceitar a autoridade e o controle dos novos parceiros dos pais, e angústia com as relações amorosas duradouras dos pais.
O desenvolvimento da criança depende, fundamentalmente, do seu contexto familiar e dos padrões de interacção gerados, dos quais a qualidade das interacções pais/criança, o tipo de experiências e vivências que a família lhe proporciona, bem como aspectos relacionados com os cuidados básicos em termos de segurança e saúde, surgem como particular relevância.
Relendo o que escreveram Winnicott, Bowlby, Zazoo, Belsky..., concluo que a maior ou menor dependência da criança em relação ao ambiente, tem por base um processo de desenvolvimento emocional, primeiramente caracterizado pela “dependência absoluta” do bebé em relação ao meio; depois por uma “dependência relativa”, caracterizada pela percepção de um mundo externo. A continuidade dos cuidados recebidos permite a passagem para o estádio nomeado “rumo à independência”, já que o ser humano nunca é completamente independente do meio.
Percebe-se então a importância do meio, caracterizado inicialmente pela família, para um bom desenvolvimento emocional. Na falta de ambientes adequados patologias diversas podem surgir. A criança precisa de segurança e confiança  sem os quais o crescimento e o desenvolvimento serão afectados. Necessita ainda de ser aceite e amada, de ser elogiada, de ser educada com disciplina e inserida num sistema de valores.
Concluo ainda, que o desenvolvimento citado se refere a um crescendo de competências e de habilidades que capacitam o indivíduo para se relacionar afectiva e socialmente com os outros, isto é, para interagir socialmente.

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