segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Educar com afecto e firmeza

Na educação dos filhos o grande desafio é o de aprender a avaliar as situações do dia-a-dia sem agredir a personalidade da criança, equilibrando a afectividade com a firmeza. Comportamentos indesejados não podem ser estimulados, mas as emoções não podem ser sufocadas reprimindo-se os sentimentos.
Muitos pais sentem dificuldades em encontrar a medida certa entre a firmeza e o afecto e, por medo de ser autoritários, deixam de exercer a autoridade. Se o autoritarismo tem efeitos nocivos sobre a formação da personalidade da criança, a permissividade e o crescer sem limites também.
A principal função dos limites é possibilitar a construção do controle da impulsividade para que a criança, gradualmente, aprenda a viver dentro da realidade social, percebendo que nem sempre acontece o que quer e na hora em que deseja. Os limites, bem geridos, ajudam a criança a aprender a esperar, a tolerar as frustrações, a criar alternativas aceitáveis de expressão da raiva, e a perceber que os outros também têm necessidades e desejos que precisam ser tidos em consideração.
No entanto, agir desta forma não é fácil. É preciso combinar a firmeza com a serenidade e com a consistência, já que não adianta colocar limites num dia e no dia seguinte deixar a criança fazer o que quer, porque ela entende esta ambiguidade e falta de firmeza por parte dos pais. Por outro lado, não adianta colocar um limite importante com a voz meiga, ou fingir que não se vê quando a criança desrespeita o combinado. Quando o que é dito está em contradição com os actos, a criança passa a não levar a sério os limites colocados.  
Educar dá trabalho. Exige firmeza, persistência e, sobretudo, muito amor. Educar pelo grito ou pela palmada, (que me desculpem mas não existem palmadas educativas), para se fazer obedecer gera uma escalada de agressividade e o convívio familiar deteriora-se.
Há que encontrar estratégias para se actuar com firmeza e afecto. De entre estas podemos mencionar a da “negociação” e da “combinação”, sendo a sua eficácia tanto maior quanto maior for a participação da criança na construção do que é combinado. Para tal, é importante que os pais tenham a postura de estabelecer o combinado na base de "temos um problema para resolver" e que acreditem que "se a criança é parte do problema, ela é também parte da solução". Procedendo assim, os pais estarão a contribuir para que a criança desenvolva a habilidade de resolver conflitos, a capacidade de escuta, a criatividade para construir soluções em conjunto e responsabilizar-se por elas.
Nesta estratégia, o castigo e a punição são de todo desaconselhados devendo ser substituídos pelo conceito de "consequência", que é a componente essencial dos "combinados". Quando as regras e os limites são colocados e quando os "combinados" são construídos, as consequências precisam de estar previstas e deverão ser aplicadas com rigor quando for o caso. As consequências devem ter uma relação lógica com o limite ou o combinado que vier a ser desrespeitado. Por exemplo: se ainda não estudou, não vai brincar com os amigos; se sujou, vai limpar; se espalhou os brinquedos, vai arrumar, e assim por diante.
O desafio educativo que os pais têm pela frente é o de encontrar formas de substituir a desaprovação, o castigo, as palmadas, a falta de limite por uma atitude orientadora. O equilibrar o afecto e o limite começa por estimular os filhos a afirmarem-se. Afecto afirmativo significa a participação activa na vida emocional da criança, definindo limites e estimulando o diálogo.
Em jeito e conclusão, (sem no entanto indicar “receitas”), diremos que os pais devem estimular os filhos a afirmarem-se, bem como devem expressar a sua opinião com firmeza, mostrando abertura para discutir as regras estabelecidas, quando os argumentos dos filhos são convincentes; devem estabelecer limites claros num ambiente protector e educativo, orientando, e eventualmente controlando recorrendo, excepcionalmente, ao castigo quando for preciso preservar a segurança; devem permitir a participação dos filhos nas decisões importantes, elogiando a sua competência e valorizando o seu esforço; devem fazer das emoções negativas uma oportunidade para a intimidade, não mostrando impaciência nestas situações, respeitando os sentimentos da criança, explorando as causas das emoções, escutando de forma empática, ajudando a encontrar palavras para nomear as emoções mas; também devem impor  limites, ensinar a regular as emoções, ser persistentes, determinados, cumprindo o que prometem, sendo carinhosos e expressar afectos com facilidade.
             Se assim agirmos, as nossas crianças ficarão mais bem preparadas para suportar crises e problemas conseguindo, ao mesmo tempo, acalmar-se e sair das angústias; sentir-se-ão mais autoconfiantes, imaginativas, adaptáveis, empáticas e capazes de ler as emoções do outro; apresentarão uma maior competência interpessoal, pensamentos realistas, comportamentos éticos e capacidade para solucionar problemas, sendo optimistas e tendo a capacidade de se motivar a si mesmas.

Sem comentários:

Enviar um comentário