domingo, 3 de outubro de 2010

O porquê deste blogue

“ A sociedade colhe o que planta na maneira como cuida de seus filhos”
Martin H. Teicher

Ao longo dos anos têm sido dados passos muito importantes nas políticas sociais de apoio às crianças e famílias em risco, particularmente com a criação de equipas multidisciplinares especializadas em áreas tão importantes como sejam, as da preservação primária, secundária e terciária, numa tentativa para que se materialize uma intervenção pluridisciplinar, numa parceria interinstitucional diversificada e que actue o mais precocemente, preferencialmente ainda no seio da família, particularmente junto dos pais, onde se estabelecem as primeiras relações de vinculação, cuja qualidade é fundamental para o desenvolvimento harmonioso da criança; têm-se operado, ao nível do apoio familiar, diversas alterações de forma a garantir melhores condições que assegurem o bem-estar das crianças, criando as condições facilitadoras do exercício de funções parentais adequadas, de forma a ajudar as famílias a estabelecerem um relacionamento saudável e positivo com as suas crianças, centrado no exercício da autoridade, no diálogo, no respeito e numa educação pelo afecto.

Assim se tem promovido o superior interesse da criança, no seu direito a crescer numa família ou, em caso de acolhimento, ao respeito pelo seu bem-estar e desenvolvimento integral.

No entanto, a cada dia que passa, torna-se importante e necessário, analisar a problemática da promoção e protecção das crianças em risco, a montante, nas suas origens, sendo, também fulcral, encontrar as respostas adequadas, através de organizações sociais capazes de um cabal enquadramento e respostas a esta problemática.

Promover uma cultura organizacional, junto das organizações envolvidas nesta problemática, orientada para a promoção do respeito pelas crianças e jovens, pela sua individualidade, em contextos de afecto que possibilitem o respeito pelos seus direitos mais fundamentais – nomeadamente integração escolar, acesso à saúde e relação com a família, é uma tarefa sempre inacabada.

Temos que ser, diariamente, mais ambiciosos, de forma a promover, em termos mais amplos, num conjunto das mediações simbólico/normativas, a promoção e protecção das crianças e jovens, como um dos valores das sociedades modernas, numa concepção que encara o homem como produto e produtor de cultura.

Como é sabido, a cultura contemporânea, ao contrário de épocas anteriores, deu à ordem simbólica uma dimensão mais autónoma relativamente à realidade, sendo ela, simultaneamente, uma componente constitutiva da própria realidade. É aí, na dimensão do simbólico, ou da organização social do sistema simbólico, onde, normalmente, operam as instituições que promovem a denominada produção social, que devemos agir, cada vez mais, de modo a criar condições para o surgimento da criatividade, produtora de efeitos de mudança, numa interdependência entre o agir social e cultura.

A compreensão de como o meio ambiente afecta o comportamento futuro das pessoas, e de como a vida passada, principalmente da infância, podem influenciar a saúde mental dos indivíduos, aumentou muito nas duas últimas décadas com o desenvolvimento vertiginoso, por exemplo, da neurociência. Dessa forma, condições de aproximação entre ciências como a psicologia, a psiquiatria e a neurologia, estabeleceram-se e favoreceram a coerência científica das visões de pontos de vista diferentes.

Estes processos de mudança terão de passar, obrigatoriamente, pelas práticas educativas, pelos modelos de comportamento e valores, os quais deverão ser promovidos de uma forma mais acentuada, junto de famílias em situação de risco.

A dura conclusão a que chegamos é a de que temos necessidade de fazer muito mais, para assegurar que os maus tratos não venham a acontecer porque, uma vez que ocorram, as alterações/chave provocadas pelos mesmos no cérebro da criança, podem levar a que não existam caminhos de retorno.

Assim sendo, importa lançar um desafio: pelas crianças e jovens vamos, TODOS, conversar. Quando dizemos todos estamos a referir-nos a pais, professores, educadores, técnicos de acompanhamento das famílias… Para tal, importa encontrar estratégias que possibilitem que, estas conversas, cheguem à maioria das pessoas mencionadas, mas, igualmente, que envolvam os diversos “saberes” existentes.

Este blogue pretende, pois, ser uma dessas estratégias.

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