quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

A propósito de notícias alarmantes!

Fico preocupado com notícias alarmantes. Fico porque, normalmente, causam um impacto negativo junto das comunidades. Quando se trata de notícias sobre e com crianças, a minha preocupação é ainda maior. Por vezes fico com a sensação que algumas pessoas gostariam de ver algumas crianças, as ditas mal comportadas, internadas em “prisões para pequeninos”. O alarido não é bom conselheiro nem resolve situações.
Não tenho dúvidas de que o mau trato entre iguais existe nas nossas escolas. Um estudo realizado no nosso País mostrou que, aproximadamente um em cada cinco alunos (22%), entre seis e dezasseis anos, já foi vítima de mau trato pelos seus pares e na escola. Este estudo avaliou, igualmente, que o local mais comum da ocorrência de maus-tratos é o pátio de recreio (78% dos casos), seguido dos corredores (31,5% dos casos) (Almeida, 2003).
Também não há dúvida que estas situações não são brincadeiras ou simples desentendimentos pontuais entre crianças e jovens. Esta problemática tem implicações do ponto de vista da prática educativa, e as suas diferentes manifestações devem preocupar os pais, os professores e os educadores.
No entanto, nem todas estas ocorrências podem ser caracterizadas como mau trato entre iguais. Alguns episódios esporádicos e brincadeiras próprias de cada idade, mesmo com comportamentos por vezes inadequados, não trazem consequências para a auto-estima e fazem parte do desenvolvimento e da socialização da criança e do jovem. Agressividade e violência não são a mesma coisa.
O que importa é estar atento. TODOS.
Mas não peçam “prisões” para as nossas crianças “mal comportadas”. Também as não podemos, pura e simplesmente, “banir” da sociedade. “TODOS DIFERENTES TODOS IGUAIS”, não pode ser um simples anúncio publicitário. O comportamento desadequado de algumas delas (e de muitas outras pessoas na sociedade), têm origens bem conhecidas, e são essas que necessitam de ser “atacadas”. Não as crianças. Estas precisam de ajuda para crescer, para viver e serem felizes.
Importa ter presente que é importante, que o direito ao respeito e à dignidade pela criança e pelo jovem  são valores fundamentais, sendo a educação entendida como um meio de promover o pleno desenvolvimento da pessoa, bem como prepará-la para o exercício pleno da cidadania. Todos queremos e desejamos, que as escolas sejam ambientes seguros e saudáveis, onde crianças e jovens possam desenvolver, ao máximo, as suas potencialidades intelectuais e sociais, não se podendo admitir que sofram actos de violência que lhes tragam danos físicos e/ou psicológicos; que testemunhem tais factos e se calem para que não sejam também agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior ainda, que diante da omissão e tolerância dos adultos, adoptem comportamentos agressivos ou, simplesmente, achem que a vida é uma vida de violência e, como tal, não vale a pena viver.
Todos desejamos que os nossos filhos cresçam em ambientes protegidos, motivadores, aliciantes... Mas vamos lutar por isso com serenidade, com bom senso e com respeito por todos. É que o “dedo acusador” nunca deu bom resultado.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

A escola… “outro” mundo da criança

"A escola tem uma função essencial no crescimento. Crescer e aprender são, no fundo, dum ponto-de-vista psicológico, a mesma coisa. Não é possível aprender sem crescer e, talvez por isso, seja - para uma criança como para nós - tão difícil aprender." ( Sá, Eduardo )

Poderia começar esta conversa por… “era uma vez”.
“Era uma vez uma criança alegre e bem-disposta que, diariamente, corria que fosse verão ou inverno, estrada fora a caminho da escola…”, e continuaria: “ e assim se fez menino, e assim se fez homem”. Claro que também poderia escrever: “era uma vez uma criança triste e angustiada”, em vez de alegre e bem disposta!
A escola é sem dúvida um lugar privilegiado para que a criança aprenda. Ela própria mantém, em relação à escola, essa expectativa, o encontro com o conhecimento, o espaço capaz de lhe proporcionar a satisfação da sua curiosidade quase que inesgotável. Mas a escola é também separação e desconhecido e como separação cria conflito e como desconhecido suscita medo e curiosidade. Mas, acima de tudo, a escola é relação, relação com os outros, os companheiros professores, relação consigo mesma com as suas perguntas e as suas respostas, que a levam a pensar, a aprender e a crescer.
A escola não é (não deve ser) apenas a transmissão do conhecimento vazio de emoção e afecto, porque a criança valoriza o saber pela maneira como o pensa e o sente, assim a escola tem muito a ver com o gostar. Gostar de aprender, gostar de estar e de lá voltar, gostar de si e gostar dos outros.
Para caminhar neste novo espaço desconhecido que pode ser pleno de experiências, e não esqueçamos que primeiramente se aprende pela experiência e pela acção, mas que sempre se mistura a emoção, a criança terá como companheiros, primeiro o educador, depois o professor, capazes ou não de a compreender, de se dar e de se encontrar, para com ela aprender e assim poder ensinar. Disponíveis para entender cada aluno e encontrar a medida do seu crescimento, anterior e interior, dele partir para continuar a construir, a ajudar, a organizar e a facilitar o seu crescer, o seu aprender, entendendo que " querer aprender será sempre diferente de querer ser ensinado. Que aprender implica relacionarmo-nos em dois mundos - externo e interno -, retirando do primeiro coisas a estruturar num espaço mental, dando-lhe sentido na forma de pensamentos, misturá-los, modificá-los à luz das experiências emocionais e aplicá-los com significado e adequadamente a outras e novas situações criadas em cada um destes espaços ou na sua dependência." (Strecht,1995).
A escola enquanto espaço e sobretudo tempo, possui uma importante função que vai para além da função social e, por ser dinâmica e viva, deve ser capaz de propor a mudança não deixando de ser o lugar humano dos sonhos e das utopias que existem em cada aluno e… em cada um de nós.
A escola faz-se todos os dias com inteligência, com competência, com bondade e com firmeza, por parte de todos que dela fazem parte. Sem nenhuma excepção.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A criança cresce e aprende no jardim de infância

A criança ao entrar para o Jardim de Infância já assimilou e trabalhou internamente uma quantidade significativa de informação, já domina um grande grupo de conhecimentos, capacidades físicas, maneiras de comunicar o que sentem e o que pensa e uma série de identificações com o seu meio familiar ao qual se sente estritamente ligada e a tornam capaz de continuar a crescer.
A criança de 3 a 6 anos tem uma vontade insaciável de explorar, de agir sobre as coisas e de pensar as suas acções. Ela vai sendo cada vez mais capaz de reflectir sobre os seus comportamentos e a sua memória vai se tornando mais duradoura, pode agora pensar a acção e está até mais interessada em pensar a explicação dessa acção, para formar planos de acção futura. No seu comportamento deixam de ser visíveis os esboços do seu pensamento porque os planos de acção vão sendo também interiorizados progressivamente.
Esta percepção do mundo que a rodeia, em conjunto com a fantasia, a imitação e a representação, que lhe serve para pensar o real, para o compreender intimamente, é o canal privilegiado para aprender, por partes, em passos curtos, de processos e imagens mentais, em formas de registo mnésico que possibilitam a acomodação e uma busca constante de equilibração. Mas para que o processo seja de crescimento global e harmonioso, exige um paralelo crescimento afectivo, em que se jogam a segurança do poder explorar um território cada vez mais vasto e investi-lo, percorrendo-o até ao seu "horizonte", tendo como base alguém que neste novo espaço alimenta e acalenta a relação, a educadora. Porque muitas vezes a criança vive este espaço de jardim como vive, ainda, o lar, nele também vive o adulto como vive a mãe.
O papel do educador é assim muito afectivo, pois como incentivador das experiências, proporcionador das actividades e facilitador de meios e materiais estimulantes a serem moldados ao sabor da descoberta e da representação do mundo, para a sua compreensão, ele tem que se envolver e investir na relação com a criança, proporcionando liberdade de escolha, respeitando a sua vontade incentivando a sua participação, tendo em conta  a sua disponibilidade e a fase de maturação que  lhe apresenta, para não exigir de mais e conhecer e amparar, o que a criança é capaz de pensar.
O raciocínio da criança, a sua atenção e percepção são condicionadas pelo seus interesses e fixam-se nos estados resultantes da acção- centração- não a deixando perceber o todo.
A educadora poderá sempre estar atenta às manifestações da criança, muitas vezes inconscientes, que poderão modificar o investimento nas acções e a maturidade que apresenta para participar activamente nas experiências. A criança, porque vai descobrindo cada vez melhor o seu corpo, percorre estas idades sensível às diferenças que apresenta anatomicamente em relação ao outro sexo, investe o seu pensamento no que é afinal ser menino ou menina, porque é que o outro tem e eu não tenho e enquanto vai respondendo a estas suas questões vai se confirmando, se esta fase for bem resolvida dela sairá mais forte e pronta a iniciar caminhos diferentes do outro sexo.
A sua posição no triângulo familiar, leva-a a questionar donde vêm os bebés, como é que nasceu,  indo  buscar respostas no brincar aos pais e às mães, no jogo simbólico. O desvendar destas curiosidades intensas da criança poderá ser acompanhado pela educadora no contar de histórias, dando forma aos pensamentos da criança, evitando bloqueios intelectuais por inibição da curiosidade que mais tarde ocasionarão dificuldades de aprendizagem.
A criança cresce brincando. O seu mundo está povoado de brinquedos e com eles ela convive no imaginário, no fantástico, num espaço de transição entre o interior e o exterior, o campo da actividade simbólica, onde é poderosa, onde tudo controla. «A realidade sem elementos fantasiados é dura, fria e emocionalmente não satisfatória, mesmo quando parece vir ao encontro das nossas necessidades. Se queremos ter uma vida que nos dê satisfação, então os nossos mundos interiores e exteriores têm de ser integrados de uma forma harmoniosa.» (Bettelheim,1987)
 «Uma criança que não brinca, que não pode experimentar-se... que não jogou esses jogos de identificação, que não encontrou ecos de apoio nos que a rodeavam, tem mais dificuldades em viver coerentemente consigo e em dar espaço aos outros.» (Santos,1983)
O jardim-de-infância é também um espaço privilegiado para crescer com o jogo simbólico, com o desenho, a expressão corporal como actividade de transição entre dois mundos. Sendo o jogar e o brincar o meio natural de expressão da criança, ao educador cabe não só proporcionar-lhe essa oportunidade, como saber aproveitar toda a comunicação da criança para melhor a entender e com ela partilhar as suas descobertas, funcionando como o elo de ligação entre as suas duas realidades, devolvendo-lhe um sentimento de auto-estima, de que é aceite e de que o que investe tem valor.
O jardim em que se estabelecem boas relações afectivas, em que a criança deseja brincar e ser feliz, é um verdadeiro espaço de crescimento e de enquadramento evolutivo de uma aprendizagem que se faz lenta mas pensada e permite à criança que se estruture, crescendo mais um pouco.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Expressão e Intervenção Artística na Educação e Formação da Criança(II)

O primeiro objectivo da área das expressões é o de desenvolver as capacidades de expressão, comunicação e intervenção criadoras da criança. Esta área no seu conjunto promove as actividades, plástica, musical e dramática, as quais se encontram, no programa do 1º Ciclo do Ensino Básico, organizadas numa perspectiva evolutiva ou seja, do simples para o complexo e mesmo assim de acordo com o ritmo e escalão etário de cada criança.
         É sabido que a criança ao chegar à escola é portadora de potencialidades criadoras, que são reveladas através do prazer de se movimentar, de brincar, jogar, construir, desenhar, pintar, modelar, cantar e dançar. No entanto também é um facto que muitas vezes a escola em vez de estimular e potencializar aquelas apetências, as condiciona e submete a criança a modelos e regras rígidas coarctando-lhe a espontaneidade, o que a leva a sair da escola com dificuldades de expressão a diversos níveis.
         A criança projecta-se no que faz com sinceridade sendo portanto necessário saber respeitar essa sua autenticidade. Contrariá-la, negá-la, é dificultar a relação que deve existir correctamente, entre o adulto e a criança. É, igualmente, levá-la ao sentimento de incapacidade e não atender à sua real necessidade de comunicar com os outros e com o mundo que a rodeia.
         A criança manifesta-se através do movimento corporal, da voz, do som, da palavra, da imagem, pelo que há que criar condições na escola e na sociedade para que ela se exprima espontaneamente e se desenvolva naturalmente de acordo com as suas capacidades emotivas, físicas e intelectuais, exprimindo as suas naturais sensações corporais, sentimentos, desejos, curiosidades, ideias, experiências e todo um conjunto de factos emotivos que transporta consigo.
         Por outro lado é através do estudo e compreensão dessas actividades que se poderá cada melhor, conhecer o mundo da criança.
         Infelizmente, durante largos anos a educação esteve mais preocupada com a adaptação do indivíduo ao meio social do que à sua capacidade de intervenção ou de iniciativa nesse mesmo meio, e, assim, aquela educação foi sendo concebida como um processo destinado a formar e a fortalecer a capacidade de raciocínio em claro detrimento de formas de expressão mais espontâneas. A lógica deste procedimento tinha por base de que era através do chamado pensamento racional que o humano podia dominar não só o meio em que vivia como igualmente a si próprio.
         Claro que hoje se pensa um pouco diferente. Hoje admite-se que não é possível caminhar correctamente sem que ambos os membros estejam de perfeita saúde. Hoje o subconsciente é admitido com sendo de extrema importância para ficar recalcado. Sabe-se, igualmente, que existem energias latentes que têm necessidade de ser expandidas e que tal só é possível em condições aceitáveis tendo por base as expressões.
         Contribuir para o "crescimento" do indivíduo tornando-o simultaneamente criativo e atento à criatividade dos que o rodeiam, é uma das principais metas da Expressão e Intervenção Artística. E isto porque ao tornar-se criativo, o indivíduo desenvolve qualidades essenciais e indispensáveis ao diálogo com a sensibilidade, a receptividade, a inteligência, a transparência lúcida, a fluidez e mobilidade de pensamento, a par do poder de análise, de síntese, de reflexão crítica, imaginação e, como não podia deixar de ser, prazer na descoberta.
         Podemos ainda acrescentar que a expressão criadora é a forma pessoal de cada um devolver ao exterior as impressões que capta do meio. Assim sendo é de extrema pertinência estimular as crianças para a utilização plena dos seus sentidos, proporcionando-lhe a utilização dos mais diversos meios de expressão.
         Todos nós precisamos de sentir e pensar com o corpo todo, e tanto no que diz respeito à utilização das palavras como igualmente em temos de imagens e acções.
         As Expressões, tal como as concebemos, são uma componente essencial da educação e visam o desenvolvimento global e harmonioso do ser humano.
         Já Platão recomendou que se fizesse, das diversas formas de arte, o fundamento do método educacional.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Expressão e Intervenção Artística na Educação e Formação da Criança (I)

"A arte é dom de quem cria,
portanto não é artista,
aquele que copia,
as coisas que tem à vista."

                             António Aleixo

E era analfabeto o poeta Aleixo...
         Ainda hoje muitos “letrados” obrigam a criança a aprender (?) copiando, resumindo a sua expressão artística a simples ilustrações, joguinhos, corridinhas e pouco mais...
         No entanto é hoje reconhecida a importância das chamadas actividades expressivo/artístico no desenvolvimento harmonioso da pessoa humana.
A expressão na criança é antes de mais um processo altamente globalizante de toda a sua vida, contribui para a sua educação activa e renovadora e, mais de que qualquer outra actividade, faz intervir a totalidade da pessoa ou seja, a inteligência, a sensibilidade, a afectividade, a autonomia...
Estudos feitos provaram que as crianças, beneficiando de actividades de expressão artística, obtêm melhor rendimento nas outras disciplinas. É conhecida a facilidade da aprendizagem das línguas, das literaturas, da história, pelas dramatizações e que estas ajudam ainda a criança no seu processo de desenvolvimento pondo em jogo a sua expressividade, a sua criatividade e a sua consciência de valores, ao mesmo tempo que a ajudam na sua relacionação social, facilitando ao educador o conhecimento das diferentes manifestações da personalidade e adaptação ao meio.
 Por outro lado também se reconhece a importância da expressão plástica na aprendizagem da leitura e da escrita, bem como a do jogo como sendo o melhor meio de formação e o melhor veículo para favorecer a maturação de capacidades fisiológicas e sensoriais, possibilitando o desenvolvimento da observação, da atenção, da memória, do vocabulário, da imaginação... A expressão musical leva a criança a adquirir as aptidões necessárias para uma boa aprendizagem e ajuda-a a vencer a inércia bem como lhe desenvolve a capacidade de observação e o espírito crítico para além de outros aspectos igualmente importantes.      
         Assim sendo, há que promover a expressão livre e criativa da criança, potenciando as expressões, para tornar mais fáceis e agradáveis as aprendizagens, e dando lugar a que a acção educativa se processe tendo por base factores emotivos e afectivos altamente promotores do desenvolvimento.
         A criança precisa de sentir e pensar com o corpo todo. As expressões artísticas são fundamentais para o desenvolvimento das suas capacidades expressivas. Por outro lado, o contacto com a arte facilita o acesso à aprendizagem de outras áreas do conhecimento humano como vimos, sendo necessário que a criança, através delas, exprima as sensações corporais, sentimentos, desejos, ideias, curiosidades, experiências e todo um conjunto de factores emotivos que transporta em si.
Contribuir para o desabrochar do indivíduo, tornando-o criativo e atento à criatividade dos outros é um dos objectivos das expressões artísticas.
         Na arte não há nada definitivo, nada acabado. A arte está sempre a actualizar-se, a evoluir, a renovar-se como a vida e o próprio homem.
Assim sendo, a criança precisa dela para crescer em criatividade.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Brincar e Jogar: contributos para o desenvolvimento

          Já lá vão uns anitos é certo, mas ainda me lembro daquelas brincadeiras que fazia quando tinha tempos livres. Ele era o jogo do pião, ele era a apanhada, o berlinde, a cabra cega, aos reis e às rainhas, à corrente eléctrica, ao lenço, à rolha, às touradas, ao Zé da Mitra e claro, ao futebol e ao hóquei (sem patins), tendo como bolas os pobres marmelos em crescimento que, coitados, não tinham culpa  do dinheiro não chegar para comprar as ditas.

         Brincava muito jogando a tudo um pouco. Claro que de vez em quando ouvia um "ralhete" quando a brincadeira era em demasia. Claro que que também tinha as minhas obrigações, também ajudáva os meus pais, também fazia os meus deveres escolares(?). Mas bincava  e  jogava.(E ainda  brinco e jogo).

         Hoje a criança brinca e joga menos, ou melhor, o jogo está a ser considerado, erradamente, por muitos adultos, como perda de tempo no caminho que há-de levar a criança a engenheiro, a doutor, a arquitecto...

         A utilização do jogo é um valor directo no desenvolvimento físico, intelectual e social das crianças. O jogo é para a criança algo de bastante profundo. Estudos realizados em diversas escolas e levados a efeito por psicólogos especializados, têm mostrado que o jogo além de ser um exercício intelectual, é uma linguagem da vida emocional, e um dos principais meios para a criança pôr as suas fantasias em relações cada vez mais ligadas com a realidade causal e o mundo objectivo. E basta observarmos as crianças quando brincam para verificarmos, através da linguagem falada, que o jogo é para elas um meio de análise e de controle do sentimento e do pensamento.

         A criança fica facilmente ansiosa; os seus medos de perda de amor, perda de segurança e as suas ansiedades sobre os sentimentos fortes e ambivalentes, tornam-se rapidamente visíveis e aparecem sob a forma de hostilidade, recusa ou ambas. Os seus desejos entram em conflito com as exigências do ambiente; a sua vida imaginativa contém receios, ameaças secretas e não expressas.

         É nestas alturas que o jogo é para a criança um meio de expremir, concretamente, as fantasias do seu espírito, levando-a a exteriorizar emoções através do único meio de que dispõe para pensar, sendo um elemento fundamental na capacidade de, mais tarde, se aceitar a si mesma e, consequentemente, aos outros.

         É preciso que os pais e os educadores em geral, tenham consciência de que o jogo não é apenas para ser tolerado mas sim encorajado e visto com agrado. A família e a escola devem servisse do jogo da criança igualmente para a perceberem e para a ajudarem.

         Infelizmente muitos são ainda os pais e educadores que têm dificuldade em deixar as crianças brincar livremente, talvez porque no fundo de si mesmos não aceitaram a criança e temem    as suas fantasias;  talvez porque têm aversão à desarrumação e aos "estragos",  preferindo os brinquedos muito arrumadinhos, muito estimados, tão estimados que a criança não pode brincar com eles; talvez porque consideram o jogo e a brincadeira uma perda de tempo e estão ansiosos por a criança trabalhar bem e muito, de forma a  progredir rapidamente.

         Brincarem com ela nem pensar. "-Pai, brinca comigo ao macaquinho chinês!" ; "-Näo tenho tempo."; "- Estou cansado, brinco outro dia."; "- Só pensas na brincadeira. Vai mas é fazer os trabalhos da escola e deixa-me em paz".

         Claro que para estes pais, o jogo é algo desnecessário como desnecessário é o amor. Para eles o único objectivo da vida é o trabalho, vivendo toda uma vida de cabeça virada para baixo como a pobre da formiga.

         É pois necessário insistir em que as crianças precisam e muito, de tempo e espaço para os seus jogos, para as suas brincadeiras. Mesmo que o espaço seja uma raridade em muitas casas e em não poucas escolas, pelo menos um canto e muito tempo, têm de lhes ser concedidos.

         Atenção pois: quando uma criança não joga e não brinca é todo o seu desenvolvimento desde o afectivo, ao físico, ao intelectual, que está a ser atrofiado.Mas mais: o jogo é condição fundamental para o desenvolvimento infantil, mas  também o é para uma vida em busca da felicidade.

         Jogar é viver, mas viver - é preciso dizê-lo - também é jogar.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Lúdico e a Criatividade

Brincar é o mundo da criança! Mas, tanto quando possível, deve brincar de uma forma livre e natural.
Ao permitir que tudo aconteça naturalmente como quem respira, a criatividade fomenta-se na criança. Não devemos esquecer que quanto mais discreta é a presença do educador, mais desinibida será a actividade da criança.
É a própria criança que descobre o seu modo de agir e de se exprimir, bem como o material e técnica que melhor se adaptam à sua própria expressão. Deve-se também dar uma série de materiais e de espaços, para que a criança desenvolva a sua criatividade. A criatividade desperta-se através do fazer, da experimentação constante.
O adulto, na sua acção de educador terá de ser autêntico perante a criança, tendo esta mais facilidade em aceitá-lo e em compreendê-lo, podendo estabelecer-se uma boa relação afectiva entre os dois. O importante é toda esta relação bilateral, decorrer num clima não directivo, liberto e libertador, que permita que a criança actue, se exprima espontaneamente e criativamente em contacto com os outros. A criatividade apela para uma pedagogia não directiva ou pelo menos flexível e aberta, que permita que seja a criança a descobrir o seu modo de agir e de se exprimir.
A capacidade criadora significa flexibilidade de pensamento e fluidez de ideias, podendo ser também a amplitude de conceber ideias novas.
A arte pode-se considerar um processo contínuo de desenvolvimento da capacidade criadora. Dando várias oportunidades às crianças estas têm a possibilidade de desenvolver o pensamento criador, na experiência artística.
Para que a criatividade se desenvolva é necessário que a criança explore, investigue e descubra. Através da experimentação, a criança exercita as suas faculdades sensoriais através dos diversos materiais, trazendo-lhe não só a alegria da actividade, mas proporcionando-lhe uma visão mais clara do mundo que a rodeia.
Não nos devemos preocupar em motivar as crianças para se comportarem de forma criativa, mas sim proporcionar-lhes caminhos onde a sua curiosidade os levem à exploração.
É sabido que a expressões permitem à criança exteriorizar os seus sentimentos, exprimindo os seus problemas afectivos, que na maioria das vezes não consegue exprimir oralmente, vai assim conhecer e explorar as coisas, descobrindo-as, fazendo com que esta crie e acrescente ao real, coisas da sua imaginação.
A criança é por natureza criadora. Está repleta de impulsos, tensões, de sensações, de sentimentos, desejos, necessitando de se expandir livremente. Ao observarmos uma criança em actividades livres, constatamos que esta é essencialmente expressiva e criadora. Ao possibilitar-se meios para que a criança actue livremente e a motivação remova a situação inibitória inicial, é como se se abrisse a porta para a saída da tudo aquilo que estava acumulado no íntimo do seu ser.
"A expressão criadora é o acto que vem de dentro, desenvolve a personalidade, forma o seu carácter e faz dela um ser sociável.” (STERN 1976)
É o ambiente que proporcionamos à criança que vai favorecer ou desfavorecer a capacidade criadora.
"Sem liberdade não há expressão!"( GONÇALVES 1976) Quantas vezes foi dita esta frase? Muitas! No entanto poucas vezes foi compreendido o seu verdadeiro significado. Quanto mais liberdade, mais responsabilidade e sendo assim aparece-nos a disciplina. Ao falar em disciplina, outras palavras vão surgir: segurança, tranquilidade, liberdade e responsabilidade.
A escola, as AECs, os ATLs sem dar conta, impõem modelos pré-concebidos que acabam por sufocar a potencialidade criadora que cada criança em si contém  e não há nada que substitua o que foi destruído pela pressão do adulto.
O Educador tem um papel fundamental. Se o adulto intervém na criação da criança não há dúvida que a altera, quer ele actue sobre a intenção ou sobre a maneira de executar o seu desenho. Na realidade, há duas atitudes; uma é actividade espontânea da criança, outra a actividade orientada. Na primeira pode o adulto aprender com a criança, a criança com o adulto ou um aprendizagem recíproca, na segunda é essencialmente a criança a aprender com o adulto. Estas duas atitudes, ao serem bem compreendidas e desenvolvidas, possibilitam a liberdade criadora, proporcionando o equilíbrio que nos fala Stern: equilíbrio entre acção livre e acção educativa. Para as crianças a arte, pode constituir o equilíbrio necessário entre o intelecto e as emoções, sendo esta um apoio que procuram naturalmente ainda que de modo inconsciente.
A exteriorização de toda a vida interior é a expressão que, será tanto mais rica, quanto maior as possibilidades de encontrar um meio favorável. Seja qual for a estratégia utilizada: movimento, canções, jogos, pintura ou outras actividades, a expressão "não é um espectáculo para os ouvidos, mas sim uma expressão de sentimentos".( STERN 1976)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Crescer e aprender

         Desde os primeiros momentos, a tarefa de cada um será dar um sentido à vida, sentindo num mundo à altura, razões que dêem alento remetendo para um projecto, com percalços inevitavelmente, períodos críticos, sensíveis onde o encontro/desencontro, fará a síntese da história pessoal de cada ser (o encontro com o passado/ presente/ futuro) de um crescimento em direcção a... Com tudo o que se foi, é e será experienciado, pensado e projectado...
         No início da história de cada um, o primeiro modelo é a mãe ou uma figura materna, suficientemente “boa e consistente” que irá colar ao bebé as características que gostaria que ele tivesse, são “os olhos da mãe,” que dão uma identidade, um sentido...
          Depois o tempo e a interacção, afectiva e cognitiva, que se estabelece entre os dois, permiti-lhes um vínculo e também no bebé a criação de uma base segura. A mãe vai introduzindo a distância, a tolerância à frustração, que paralelamente às suas vivências sensório - motoras que lhe irão proporcionar um caminho de separação e de individualização, será a fase da confiança básica versus desconfiança, ou seja o bebé confia na mãe mas também em si mesmo, porque vê confirmadas as suas expectativas, sendo o nascimento da esperança, em dar um sentido ao “vazio."
         Quando explora o mundo dos objectos, quando conhece os pais por dentro, ganhando o pai um valor incontestável, porque interage com ele e mostra-lhe um mundo mais alargado. As formas como os pais desenvolvem o seu modelo parental, será de extraordinária importância, quer no modo como são coerentes quer na forma como valorizam e estabelecem limites, pois estando a criança na fase anal, o sim e o não, a sua possibilidade de controlar-se dentro de um campo de escolhas, induzirá ao aparecimento da vontade e também da dúvida...será que os pais vão aceitar... gostar? Este momento será o da autonomia versus dúvida, quando bem alicerçada será o espaço daqueles que irão crescer, daqueles que darão espaço a si e aos outros...
         Vão existir sempre dois movimentos, o ser igual e ser diferente, identificando-se com os modelos parentais, construindo ao mesmo tempo a sua identidade. Estes momentos poderão por vezes ser difíceis, porém através do jogo simbólico e de outros meios de expressão, o prazer em estar com os outros (pais e pares) irão ajudar a superar este período de iniciativa versus culpa, devolvendo-lhe uma auto-estima coesa, nascendo neste momento, a coragem, conciliando o seu mundo interno com o externo, aparecendo por vezes o objecto transicional, que irá ajudar na transição, no salto para o outro lado...
         O outro lado, é o mundo mais alargado, a escola, onde não será propriamente a criança que irá ser valorizada mas as suas produções, como que num flash, ela fará agora a integração dos primeiros momentos e dos outros que se seguiram, equacionará este novo mundo com o Anterior, confirmando ou subvertendo o passado... Se o caminho foi natural, se a confiança básica, a esperança e a vontade foram espaços nela vividos, então o mundo da escola será uma aventura com a curiosidade inerente, a vontade de conhecer ao mesmo tempo de crescer. Se tudo isto não aconteceu, quer do lado da família quer da disponibilidade da escola, então o projecto de crescimento e aprendizagem, pode ficar comprometido.
         Partindo do princípio, que a escola confirma as experiências positivas do passado, proporcionando o professor modelos intermediários, ora centrípetos ora centrífugos conforme a situação, a criança desenvolverá a competência para elaborar as aprendizagens, para querer aprender e crescer, em vez de ficar voltada para si, de costas para o mundo... A forma como a família, a escolha, os amigos, interagem é significativa, pois são os seus modelos de funcionamento, que irão permitir, a manifestação de um percurso mais ou menos calmo, mais ou menos tumultuoso.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A criança, os outros, o conhecimento…(II)

No que respeita ao desenvolvimento social é nesta altura que há uma vida social muito intensa. Neste período as crianças agrupam-se muito por idades e mais tarde separam por sexos.
Interessante é verificarmos a sua evolução em termos da sua participação no jogo. Pelos 6 anos, não suporta perder ao jogo, chegando inclusivamente, se necessário, a fazer trapaça para ganhar; um ano mais tarde já aprendeu a perder, mas tem ainda que ficar no final a ganhar; aos 8 anos participa melhor no jogo, com mais cooperação, com menos insistência em levar a sua avante; é no entanto pelos 9 anos que aparece a autêntica actividade cooperativa: o bando ou o clube é uma coisa importante, podendo subordinar os seus próprios interesses e exigências à necessidade de se entender bem com o grupo, procurando estar à altura das suas normas e critica aqueles que não procedem assim.
Ao nível das brincadeiras de grupo, especialmente brincadeiras imaginativas, como às mães e aos pais e às compras que são habituais nas crianças com 6 /7 anos; pelos 8 anos começa a ser capaz de aceitar as regras ou linhas de orientação simples, sendo igualmente capaz de participar na organização de clubes de crianças, com designações e senhas secretas, mas de duração temporária; a partir dos 9/10 anos muitas crianças pertencem a alguma espécie de clube, gostando de agir e competir como tal e de onde excluem rigorosamente os não membros.
As experiências que a criança faz no grupo vão prepará-la para a vida social; vai evoluindo o seu crescimento mental e construindo o equilíbrio futuro. É na relação entre pares que se vai afirmando a respectiva personalidade; a criança vai tendo noção dos seus direitos; percebendo as rivalidades entre grupos; desenvolvendo a ajuda mútua; partilhando materiais; tudo isto é experiência para a socialização e por conseguinte para a vida.
Na adolescência o grupo e os amigos representam um porto de abrigo, seguro e alternativo, um espaço de inúmeras trocas afectivas e experiências. Os pares surgem nesta altura como o grupo, com o qual partilham senhas de identidade, no qual poderão ser criadores de cultura onde o seu conflito geracional tem eco, assim como o desejo de autonomia. O reflexo deste processo, mais não é de que a constituição da self, da sua identidade, que não poderá ser descontextualizada da interacção com o grupo.
A adolescência passa por ser a configuração da identidade pessoal a qual não se consegue sem confronto e desequilíbrios com o exterior e consigo próprio.
O “conceito de identidade” elaborado por Erikson pressupõe que a identidade constitui uma diferenciação pessoal inconfundível, a autodefinição da pessoa perante outras pessoas, perante a realidade e os valores, sendo a adolescência o período – chave e também crítico da formação e da identidade.
Ainda segundo Erikson o processo de identidade no período da adolescência pressupõe:
-         A consciência da própria identidade
-         O empenho inconsciente em constituir um estilo, uma forma de ser pessoal
-         O desejo de encontrar uma síntese de equilíbrio entre a esfera do eu e as actuações que deles derivam;
-         A procura da própria definição pessoal mediante uma vinculação social que se apoia no desenvolvimento de um sentimento de solidariedade para com as ideias de um grupo pelo qual se sente de algum modo representado.
A ligação vinculativa na adolescência ( Erikson), é a fase da ideologia, da formação de uma visão do mundo o que pressupõe aceitar a adolescência com um período em que os jovens estão em condições de escolher parceiros amorosos, de começar a captar, confrontar e assumir o sistema social de concepções, crenças, atitudes e valores dos grupos sociais em que vivem, relacionando-se com eles e tomando-os como regras e guias para a sua própria vida.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A criança, os outros, o conhecimento…(I)

“A aprendizagem da vida (...) está longe de se fazer sem os outros” (Rivier). Com a sua presença a criança vai desenvolvendo trocas de natureza diversa, vai escolhendo os seus parceiros e, em consequência disso reconhece e aceita a regra e o jogo social.
         A procura do outro e as inter-relações que se exprimem compreende a emergência e a evolução das diferentes etapas do desenvolvimento social e afectivo.
         Poder-se-á dizer que existe na criança uma actividade filiativa orientada em direcção ao grupo ou pessoa determinada; que as escolhas de parceiros onde dominam as relações a dois são relativamente estáveis; que as actividades coercivas dominam as actividades conflituais; que o desenvolvimento temporal das relações interpessoais evidencia que a criança que tem experiências precoces com outras, manifesta uma actividade social nitidamente mais elevada.
Desde a mais tenra idade que as crianças demonstram interesse umas pelas outras.
Se até por volta dos três meses, a criança é  indiferente à presença de outras crianças, em termos de relação ela reage ao seu grito, ao seu choro e até ao seu sorri, gritando, chorando e sorrindo também em espelho.
É no entanto a partir dos 6 meses de idade que iniciam tomam "contacto" com o outro; pela locomoção a partir dos 8/10 meses, começa um "jogo" de observação, de toques, de sorrisos e imitações tendentes a uma aproximação cada vez mais elaborada. Eckerman, Whately e Kutz (1975), citados por Diane Papalia (1981), contam-nos que, colocando juntos pares de bebés de 10 meses de idade, que se não conheciam, verificaram que eles manifestavam interesse uns pelos outros. Este interesse aumenta progressivamente à medida que as crianças vão crescendo e, cerca dos dois anos têm uma maior tendência para brincar uma com a outra do que quando sozinhos ou na presença das mães o que levou os autores a concluírem que, desde muito cedo a interacção entre as crianças as conduz a um bom caminho para a sua socialização.
Brazelton (1992) afirma a importância do relacionamento entre crianças a partir dos dois anos para que possam aprender a "dar e a receber em igualdade de circunstâncias" ou seja a fazerem uma aprendizagem da "reciprocidade". Deste contacto e deste relacionamento, nasce o reconhecimento de sinais de cedência e de liderança, favorecendo-se as aprendizagens por imitação.
Progressivamente e até cerca dos três anos, à medida que se vai descobrindo a si, vai igualmente descobrindo o outro como seu par o que passa por ser um estímulo à sua afirmação como pessoa.
A criança começa verdadeiramente a partir dos 3/4 anos a desejar estar com as outras crianças, interessando-se pelo que fazem, mas o facto de ainda não considerar como válido senão o seu ponto de vista. Progressivamente as interacções multiplicam-se e, também pouco a pouco, começam a agir em comum.
O desenvolvimento da socialização aparece bastante ligado à escolaridade, pois o natural alargamento dos horizontes sociais, determinado em termos de maturação, é concretizado pela entrada na escola.
A criança passa a conceber-se entre os colegas como uma unidade que pode juntar-se a grupos diferentes, que pode classificar-se diferentemente, segundo diversas actividades: corridas, jogos, capacidade escolar...
Claro que no início da escolarização aparece quase sempre algo parecido a um "choque", já que passa de um meio afectivamente favorável para um outro onde se tem que movimentar entre "iguais" e embora se encontre apta a enfrentar essa nova situação, esta causa alguns "distúrbios" emocionais
No entanto esta transição do meio familiar para o meio escolar far-se-á, de uma         maneira geral, sem grandes problemas e a sua completa inserção neste novo quadro social é bem patente quando a criança deixa de afirmar, "o meu pai disse" e passa a contrapor mesmo às opiniões dos pais, "o meu professor disse". 
A criança está, por assim dizer, apta a entrar ou a retirar-se dos grupos  em função dos fins ou interesses que lhe são permitidos escolher. O grupo, não é mais um grupo necessário, um grupo dado, um grupo donde a criança não poderia abstrair-se como era o caso do grupo familiar. A criança passa a conceber o grupo em função das tarefas que este pode realizar, dos jogos nos quais ela pode participar, onde pode contestar e gerir os conflitos. Sucede, por vezes, conceber um grupo hipotético, idealizado e realizado por si e onde ela é poderá ser o "líder" que tudo pode e tudo manda.
Há no entanto nesta evolução toda uma série de fases. Numa primeira podemos constatar que a actividade de conjunto não existe, pois as crianças embora brincando próximas umas das outras desenvolvem actividades isoladas. Na fase seguinte o grupo já resulta de uma participação de todos os elementos e passa a existir solidariedade e cooperação. É deste modo que se estabelecem relações recíprocas entre o grupo e a criança Ela pode querer entrar para o grupo ou recusar-se a entrar, mas este pode igualmente aceitá-la ou não. Passa a querer ser aceite por grupos de crianças mais velhas, mas que geralmente a rejeitam.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O papel da família

Família é contexto natural para crescer
Família é complexidade
Família é teia de laços sanguíneos e sobretudo de laços afectivos
Família gera amor, gera sofrimento
A Família vive-se. Conhece-se. Reconhece-se.

Fui criança e filho e fui pai e fui avô e neto e, a cada dia que passa, lembro-me: um abraço, um beijo, um afago, o sol da manhã, um almoço em família, o vento no rosto, a chuva que molha, um sorriso, uma boa lembrança de ti… família!
            A família é o sistema de base de todas as sociedades, é um fenómeno universal ligado à estrutura biológica do ser humano, é a instituição que lhe permite sobreviver e desenvolver-se.
            A família tem como funções fundamentais; assegurar e promover o desenvolvimento da criança, correspondendo às suas necessidades, nas diferentes fases da sua evolução; tem a função de organizar a dinâmica familiar de forma a constituir um quadro que dê à criança estabilidade afectiva e social, na qual se estruturará a sua personalidade, canalizando e direccionando o seu desenvolvimento até à sua maturação e; como grupo social tem a função de iniciar a criança nos seus papéis sociais essenciais e garantir ao mesmo tempo a transmissão de valores e saberes de geração em geração.
            A criança nasce imatura completamente dependente sendo à família que compete a satisfação das suas necessidades fisiológicas, de afecto e segurança, adoptando as suas respostas às necessidades por ela sentidas.
A família deve organizar-se como matriz, como continuidade no desenvolvimento da criança para que esta possa prosseguir com êxito a caminhada da vida.
O sistema familiar constitui um grupo de um género muito particular, porque tem características que lhe são impostas pelas diferenças sexuais dos seus elementos e papéis que lhe estão destinados. A célula familiar é composta por duas gerações na qual cada elemento tem as suas necessidades, inicialmente cresceram em duas famílias diferentes e fundiram-se numa nova e única célula que também difere da família de origem exigindo maleabilidade da parte de ambos. Os dois sexos são educados para se completarem nas tarefas que desempenham, na sua relação amorosa e na educação dos filhos.
            Normalmente os esposos dependem um do outro, mas os filhos dependem dos pais. É de extrema importância todo o ambiente que envolve a família, a forma como os pais se relacionam entre si e com a criança, como desempenham os seus papéis e os representam, porque é a partir da qualidade afectiva dessa relação que a criança vai organizando e estruturando a sua personalidade. Os pais são os primeiros objectos de afeição e amor por parte dos filhos, assim a sua relação deve constituir uma coligação coerente e bem sucedida pois é com eles que a criança se identifica não só porque são adultos e estão próximos, mas pelos laços que estabelecem e pela forma como se dão.
Hoje a família é considerada um círculo permeável e em constante permuta com o exterior, cujo grau de abertura e fecho lhe permite filtrar a informação de fora para dentro e entre os diversos elementos da família preservando a sua identidade, adoptando modelos centrípetos ou centrífugos, sendo o equilíbrio entre estes dois modelos o melhor para um crescimento harmonioso.
Segundo Meltzer (1986) «as funções básicas de uma família são; gerar o amor, promover a esperança, conter os sentimentos depressivos e organizar o pensamento.»
Contudo, sabemos que hoje existem famílias em que essas funções não são asseguradas. Nem sempre os elementos de um sistema familiar se articulam, interagem e se organizam desempenhando ajustadamente as funções ou papeis que à partida lhe estavam destinados.
Há também famílias que optam por padrões confusos de relações entre pais e filhos, em que os primeiros se demitem das suas funções, contribuindo assim para a não diferenciação das duas gerações e conduzindo a uma ausência de modelos para a criança.
Perante situações como as que acabámos de descrever, encontramos crianças a viver no vazio de um universo de relações, à procura de uma identidade própria, sem vontade de aprender, sem vontade de crescer. Podemos assim concluir que uma criança existe em função da sua família e tudo começa antes do nascimento, depois é alimentar, sustentar o amor que se constrói no primeiro momento, fortalecendo-o em cada marca da sua evolução e ao longo das diferentes etapas do seu desenvolvimento.
            Falando de emoções, Pedro Sreth (1995) diz-nos que «as emoções com os afectos devem ser a base de toda a aprendizagem. É que as coisas são primeiro investidas, só depois intuídas e finalmente percebidas. Aprenderá, quem estiver afectiva e sentimentalmente estimulado».
Crer. Sentir. Perceber. Aceitar. Sonhar… Eu sou o que penso, sou o que sou e… sou família, sou filho, sou irmão e namorado. Eu sou tudo. Eu sou nada mas… ou sou família.


sábado, 20 de novembro de 2010

O papel da educação

Penso que já é um lugar-comum afirmar-se que o mundo está a enfrentar uma profunda crise que afecta a nossa vida nas suas múltiplas dimensões: saúde, meio ambiente, relações sociais, economia, política, educação, tecnologia...
Tal crise exige um Homem integral, ou seja, um cidadão autónomo, crítico e criador capaz de construir uma sociedade moderna e democrática, de homens livres e de cidadãos conscientes. Só esse Homem será capaz de assumir a responsabilidade de realizar uma profunda transformação na sua relação com o planeta Terra e com todos os homens. Na verdade, a possibilidade de transformação é a possibilidade da própria vida.
Por cidadão entende-se aquele que participa na vida comunitária, cumprindo os seus deveres, exigindo os seus direitos, usufruindo dos seus espaços, questionando os seus valores, construindo, enfim, uma sociedade mais justa, mais solidária, mais humana.
Esse cidadão deverá ser educado e formado para ser autónomo, do ponto de vista moral, o que significa ser capaz de agir a partir de valores morais, conscientemente assumidos como os mais correctos; para ser crítico o que significa saber discernir o que é significativo em cada situação, para poder optar pelo melhor caminho na construção de sua própria vida e da sociedade a que pertence e; para ser criador o que implica ser capaz de fazer avançar o conhecimento, de forma a poder transformar ambiente.
Para chegarmos a esse Homem, a Educação assume um papel de relevância e a finalidade do conhecimento passa a ser colaborar na formação do educando na sua globalidade: consciência, carácter, cidadania.
            A Educação deve garantir os instrumentos para uma inserção participativa e transformadora na sociedade, o que significa o domínio da leitura e da escrita, o acesso de forma crítica ao conhecimento elaborado, a vivência de formas de participação e a construção de valores.
Deve ainda contribuir para a descoberta progressiva do outro; promover, ao longo da vida, a participação em projectos comuns, como sejam projectos de cooperação, no campo das diversas actividades, desportivas, culturais, sociais... contribuir para que a criança cresça e viva em liberdade, compreendendo-a, respeitando as suas vivências, a sua espontaneidade e, sobretudo, a liberdade de se manifestar como deseja, de pensar, de agir, de sonhar e de criar.
Assim sendo, penso que, todos juntos, pais, educadores, professores, sociedade em geral e o Estado em particular, devem caminhar, de mãos dadas, em busca deste desígnio educativo.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma ideia de projecto escolar

Entendemos que o desenvolvimento do indivíduo se dá de acordo com as experiências vividas, de acordo com as situações que ele tem possibilidade de experimentar. Por exemplo, indivíduos que têm contacto mais frequente com a música e a arte de um modo geral, têm mais hipóteses de se interessar por estas formas de expressão que outros que não têm a mesma oportunidade.
Significa dizer que as experiências que o indivíduo vive, antes e durante a escola, são relevantes para o seu desenvolvimento independentemente de sua idade. Portanto, a escola não é a única, mas uma das mais importantes experiências no desenvolvimento do ser humano.
Nesse sentido é necessário valorizar a experiência que o educando tem acumulado na sua vida para dela partir para uma sistematização mais rigorosa do conhecimento. Isso não sugere ficar neste ponto de partida nem tão pouco ignorá-lo.
A organização da escola, determinada por conteúdos pré-estabelecidos, inquestionáveis na sua sequência, com acções pedagógicas que privilegiam a memorização, não favorece a construção plena do educando. A argumentação de que se precisa "dar os conteúdos" até o final do ano lectivo tem favorecido que, enquanto professores, deixemos de valorizar aquilo que é essência do trabalho educativo, a capacidade do apreender, do compreender, do instrumentalizar-se para aprender. Não se trata de desmerecer os conteúdos e nem de minimizar o trabalho na escola. Ao contrário, trata-se de trocar o "faz-de-conta que se ensina e o faz-de-conta que a criança aprende" pela preocupação real, sincera, de facto comprometida com a construção desses conhecimentos, tendo por base o "preparar para a vida".
O desafio que se nos coloca é o de reflectir e fortalecer o papel social da escola através de um processo de construção do conhecimento, actuando na formação do indivíduo em toda a sua globalidade, sem perder de vista nenhum de seus estágios de formação.
Penso que se torna necessário elaborar projectos escolares que, partindo escola e tendo em consideração a diversidade dos alunos, possam recorrer a propostas flexíveis e variadas de ensino /aprendizagem para que os alunos tenham oportunidade de atingir não só os saberes e culturas veiculadas pela escola mas, igualmente, partindo do seu meio sócio - cultural, dos seus saberes, das suas tradições específicas, consciencializar a criança para as suas raízes, contribuindo para o seu sucesso escolar e na vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Educar as crianças

Há um pensamento sábio que um dia aprendi, também com uma pessoa sábia, e que diz: “ o sorriso é o idioma do amor universal: até as crianças entendem."
Também, em tempos, li que "não se devem educar as crianças pela força e pela dureza, mas sim levá-las por aquilo que as diverte, de maneira a que possam distinguir melhor o que mais as interessa e descobrir quais as suas inclinações". Quem escreveu este pensamento foi Platão.
Hoje, as suas palavras estão tão actuais como então o que, em contraste com o fenómeno da globalização da economia mundial e consequente necessidade de uma enorme competência por parte do cidadão, não deixa de ser um enorme desafio às escolas, aos professores e à comunidade em geral, no sentido do Educar e Formar, tendo em conta a necessidade da construção de aprendizagens fundamentais, tais como aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, alicerçado no que diverte, entusiasma e motiva a criança, e no facto de que a inteligência não se desenvolve dissociada da afectividade.
A importância do papel do professor enquanto agente de mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, nunca foi tão visível como hoje. As suas responsabilidades são cada vez maiores, sendo a sua contribuição fulcral para levar as crianças e jovens, não só a encarar o futuro com confiança mas, igualmente, a construí-lo por si mesmos de maneira determinada e responsável, compreendendo e dominando o fenómeno da globalização. Ao professor, compete-lhe despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da educação e formação permanente, sem perder de vista os valores morais e culturais de um povo e de uma Nação.
Penso que tem que haver a consciência de que as formas de organização e de gestão da educação, não são fins em si mesmo, mas instrumentos cujo valor e eficácia dependem, em grande medida, do contexto político, económico, social e cultural, pelo que se torna necessário um empenhamento, cada vez profícuo, para que se criem condições para uma melhor e maior cooperação entre Autarquia, Professores, Pais e Comunidades Locais.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crescer e aprender com os pais

“Prepara-te para o que quiseres ser." Este é, sem dúvida, um pensamento sábio! Quando aplicado às crianças e à sua vida familiar torna ainda mais importante!
Começar bem é importante, isto é, iniciar uma existência num clima de amor e afecto é fundamental para que a criança possa subir degrau a degrau a escada do seu crescimento.
Crescendo e aprendendo na sua relação com os pais e com todos os limites que vão sendo introduzidos, a criança vai, seguramente, construindo a sua autonomia.
A entrada na escola exige da criança uma certa autonomia, pressupondo que esta esteja preparada para se movimentar num novo meio, onde pensa e sente por si própria e ao mesmo tempo capaz de enfrentar situações por ela até então desconhecidas.
A entrada na escola, ou mesmo antes no jardim-de-infância e a adaptação da criança ao novo meio, depende sobretudo dos pais, isto é, da forma como vivem este momento. Tal como para a criança, também para os pais, esta etapa representa uma separação que será tanto mais suave quanto maior for a capacidade dos pais em (re) assegurarem a criança.
É o início de um longo processo que conduzirá a criança a ter uma vida própria, o que pode provocar nos pais sentimentos de ambivalência. Por um lado, felizes por verem um filho a crescer por outro, porque crescer pode ser o sinónimo de separação/perda, (se cresce, já não precisa de mim!).
         Esta fase assume também particular importância para os pais, na medida em que pode trazer-lhes de volta os problemas da sua própria infância, quando passaram por esta experiência, ou ainda de uma forma inconsciente, fazer emergir os seus desejos insatisfeitos e pretender que sejam os filhos a fazer tudo o que eles próprios deixaram por fazer, apropriando-se assim da sua infância, condicionando-a em vez de ajudar a que eles se tornem no que realmente querem ser.
No sentido de uma melhor compreensão, os pais também se colocam muitas vezes no lugar da criança, tentam perceber as coisas sob o seu ponto de vista, reportando-se até a situações semelhantes por eles vividas. A partir daí aceitam melhor as suas atitudes, fortalecendo cada vez mais os laços entre si. Os pais crescem com os filhos.
O papel desempenhado pelos pais, à entrada da criança na escola, está estritamente ligado a toda a relação construída e vivida até então. Se a relação foi boa, as experiências escolares vão dar continuidade à edificação de uma auto-imagem de boa qualidade. Se tem dentro de si o amor incondicional dos pais, a criança deseja agora fazer tudo bem, perfeito, sentir-se a “melhor”, elevando assim a sua auto-estima.
         Pelo contrário, uma criança que não viveu uma boa relação, que não tem o seu mundo interior povoado de coisas boas, se está só...e triste, será o sinal de que estes passos não foram verdadeiramente preenchidos. Esta criança está a despertar nos pais o sexto sentido, o pedido de ajuda.
         Pais: ajudem os vossos filhos a crescer; pais ajudem os vossos filhos a ser felizes; pais ajudem os vossos filhos a caminhar, mesmo que o caminho vos pareça difícil, não caminhem por eles mas… com eles!