“A aprendizagem da vida (...) está longe de se fazer sem os outros” (Rivier). Com a sua presença a criança vai desenvolvendo trocas de natureza diversa, vai escolhendo os seus parceiros e, em consequência disso reconhece e aceita a regra e o jogo social.
A procura do outro e as inter-relações que se exprimem compreende a emergência e a evolução das diferentes etapas do desenvolvimento social e afectivo.
Poder-se-á dizer que existe na criança uma actividade filiativa orientada em direcção ao grupo ou pessoa determinada; que as escolhas de parceiros onde dominam as relações a dois são relativamente estáveis; que as actividades coercivas dominam as actividades conflituais; que o desenvolvimento temporal das relações interpessoais evidencia que a criança que tem experiências precoces com outras, manifesta uma actividade social nitidamente mais elevada.
Desde a mais tenra idade que as crianças demonstram interesse umas pelas outras.
Se até por volta dos três meses, a criança é indiferente à presença de outras crianças, em termos de relação ela reage ao seu grito, ao seu choro e até ao seu sorri, gritando, chorando e sorrindo também em espelho.
É no entanto a partir dos 6 meses de idade que iniciam tomam "contacto" com o outro; pela locomoção a partir dos 8/10 meses, começa um "jogo" de observação, de toques, de sorrisos e imitações tendentes a uma aproximação cada vez mais elaborada. Eckerman, Whately e Kutz (1975), citados por Diane Papalia (1981), contam-nos que, colocando juntos pares de bebés de 10 meses de idade, que se não conheciam, verificaram que eles manifestavam interesse uns pelos outros. Este interesse aumenta progressivamente à medida que as crianças vão crescendo e, cerca dos dois anos têm uma maior tendência para brincar uma com a outra do que quando sozinhos ou na presença das mães o que levou os autores a concluírem que, desde muito cedo a interacção entre as crianças as conduz a um bom caminho para a sua socialização.
Brazelton (1992) afirma a importância do relacionamento entre crianças a partir dos dois anos para que possam aprender a "dar e a receber em igualdade de circunstâncias" ou seja a fazerem uma aprendizagem da "reciprocidade". Deste contacto e deste relacionamento, nasce o reconhecimento de sinais de cedência e de liderança, favorecendo-se as aprendizagens por imitação.
Progressivamente e até cerca dos três anos, à medida que se vai descobrindo a si, vai igualmente descobrindo o outro como seu par o que passa por ser um estímulo à sua afirmação como pessoa.
A criança começa verdadeiramente a partir dos 3/4 anos a desejar estar com as outras crianças, interessando-se pelo que fazem, mas o facto de ainda não considerar como válido senão o seu ponto de vista. Progressivamente as interacções multiplicam-se e, também pouco a pouco, começam a agir em comum.
O desenvolvimento da socialização aparece bastante ligado à escolaridade, pois o natural alargamento dos horizontes sociais, determinado em termos de maturação, é concretizado pela entrada na escola.
A criança passa a conceber-se entre os colegas como uma unidade que pode juntar-se a grupos diferentes, que pode classificar-se diferentemente, segundo diversas actividades: corridas, jogos, capacidade escolar...
Claro que no início da escolarização aparece quase sempre algo parecido a um "choque", já que passa de um meio afectivamente favorável para um outro onde se tem que movimentar entre "iguais" e embora se encontre apta a enfrentar essa nova situação, esta causa alguns "distúrbios" emocionais
No entanto esta transição do meio familiar para o meio escolar far-se-á, de uma maneira geral, sem grandes problemas e a sua completa inserção neste novo quadro social é bem patente quando a criança deixa de afirmar, "o meu pai disse" e passa a contrapor mesmo às opiniões dos pais, "o meu professor disse".
A criança está, por assim dizer, apta a entrar ou a retirar-se dos grupos em função dos fins ou interesses que lhe são permitidos escolher. O grupo, não é mais um grupo necessário, um grupo dado, um grupo donde a criança não poderia abstrair-se como era o caso do grupo familiar. A criança passa a conceber o grupo em função das tarefas que este pode realizar, dos jogos nos quais ela pode participar, onde pode contestar e gerir os conflitos. Sucede, por vezes, conceber um grupo hipotético, idealizado e realizado por si e onde ela é poderá ser o "líder" que tudo pode e tudo manda.
Há no entanto nesta evolução toda uma série de fases. Numa primeira podemos constatar que a actividade de conjunto não existe, pois as crianças embora brincando próximas umas das outras desenvolvem actividades isoladas. Na fase seguinte o grupo já resulta de uma participação de todos os elementos e passa a existir solidariedade e cooperação. É deste modo que se estabelecem relações recíprocas entre o grupo e a criança Ela pode querer entrar para o grupo ou recusar-se a entrar, mas este pode igualmente aceitá-la ou não. Passa a querer ser aceite por grupos de crianças mais velhas, mas que geralmente a rejeitam.
Sem comentários:
Enviar um comentário