quarta-feira, 15 de abril de 2015

Nascer e crescer em ambientes familiares saudáveis

Como sabemos a exclusão social afeta de uma forma particular, as crianças e os jovens que se veem colocados em situações de risco ou perigo, privadas dos seus Direitos como cidadãos de pleno direito.

É commumente aceite que a desigualdade faz parte da condição social da infância contemporânea, e que o contexto em que vivemos, acentua essas desigualdades, que se traduzem em défices e omissões na satisfação das necessidades de sobrevivência das crianças, tendo em conta as diferentes idades e estádios de desenvolvimento.

Diversos estudos realizados sobre este tema têm identificado fatores de risco que devem, segundo os mesmos, ser avaliados e analisados no que diz respeito à sua interpretação, bem como numa perspetiva de estratégias de intervenção.

O que verificamos, diariamente, é que as famílias, que deveriam ser os primeiros a assegurar às crianças a satisfação das suas necessidades fundamentais, não dispõem, muitas vezes, de recursos tanto materiais, como psicológicos e sociais, que lhes permitam crescer e desenvolverem-se em ambientes protetores.

Muitas famílias não estão a conseguir assumir, adequadamente, as funções parentais o que se fica a dever à falta de condições económicas, mas também à falta de maturidade, desorganização estrutural, falta de suporte social, estilos de vida desviantes, deficit afetivo, roturas conjugais associadas a fortes instabilidades emocionais, o que gera, em muitos casos, violência doméstica onde as principais vítimas são as crianças.

Mas... se existem situações problemáticas nas famílias, estas devem ser acompanhadas de uma forma articulada e competente por quem de direito.

Há que trabalhar com as famílias, o que passa pela ativação  de acompanhamentos psicossociais e sistémicos competentes, deixando-se de ter como preocupação a recolha de informações  para compor relatórios sociais.

O modelo sistémico para o acompanhamento a estas famílias está por de mais aconselhado, mas, ao utilizar-se este modelo, devemos entender aquelas como um conjunto de elementos em interacção, em que uma modificação em qualquer dos membros provoca alterações em todos os outros, e considerar que todas as famílias passam por períodos de equilíbrio, desequilíbrio e mudança.

Para tal são necessárias técnicos com competência, conhecimento e, sobretudo, com disponibilidade de tempo, tempo para cada família já que  os processos de mudança, na sua maioria, são lentos, com avanços e recuos.

Infelizmente o que está acontecer é uma falta de pessoas para este acompanhamento  e, quando existem, são sobrecarregadas com processos sem conta que não lhes permite trabalhar, minimamente, cada um deles. (Exemplo disto são as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens com todas as consequências negativas que são sobejamente nossas conhecidas).

As famílias necessitam de ser devidamente acompanhadas, sob pena de nos limitarmos a registar as situações de maus tratos a crianças e jovens, e realizar pequenas conversas e pouco mais.

A família e a sociedade têm uma responsabilidade direta na educação, formação e desenvolvimento da criança dado que em ambas, através dos mitos, ritos e regras sociais,  adquire-se o sentido da vida, sendo as referências oferecidas por essa cultura que nos proporcionam a noção de pertença. Saber que se pertence a alguém e a um lugar, proporciona à pessoa um referencial de valor significativo.

Numa sociedade solidária, saudável e cidadã, os seus membros nunca estão sós, dado que o desejo de cuidar de si, do outro e do nós, assenta na ética das relações entre as pessoas, ressaltando o facto de que quando melhor o outro estiver melhores estaremos todos.

Assim sendo cuidar das nossas crianças a níveis diversos é um ato de cidadania de extrema importância e significado.

Infelizmente os conflitos familiares envolvendo as crianças aumentam diariamente.

Sabemos que os conflitos fazem parte da família em virtude desta ser dinâmica e composta por teias complexas de relações entre os seus membros. A história de uma família é marcada por momentos de crescimento, de estagnação, encontro, desencontro e reconciliação.

A existência de antagonismo, por si só, não é prejudicial às famílias. Os conflitos são essenciais ao ser humano e, se bem administrados, podem promover o crescimento.

Mas quando esses conflitos se traduzem em situações de violência doméstica, é preciso uma intervenção firme e tecnicamente correta, sob pena de graves problemas  na vida da criança que podem levar em alguns caso à sua morte.

Olhando a vida através dos percursos trilhados, por entre momentos de paz e de conflito, concluímos que a nossa existência lembra um riacho em busca do mar. Pelo caminho surgem pedras, barreiras e obstáculos mas, o riacho inteligente, contorna, assimila, passa por cima, passa por baixo, encontrando sempre um jeito de prosseguir até ao mar. Porquê? Porque o mar é a sua viagem final.

Assim o é para uma eficaz resolução dos conflitos. Se não vejamos: é preciso compatibilizar alguns passos a serem seguidos; conhecer e aplicar alguns saberes e, também, definir o estilo a ser adotado; criar uma atmosfera afetiva; esclarecer as percepções; focalizar as necessidades individuais e compartilhadas; construir um poder positivo e compartilhado; olhar para o futuro e, em seguida, aprender com o passado; gerar opções de ganhos mútuos; desenvolver passos para a ação ser efetivada e; estabelecer acordos de benefício mútuo.

Em suma: o rio atingiu o mar, ou seja a sua meta, porque aprendeu a superar as dificuldades, sempre e em tudo, com uma profunda vontade de ser, crescer, servir e…amar.

E embalado pelas "ondas oceânicas" concluímos: aceitar as diferenças com naturalidade é ter a capacidade de perceber que este mundo é de todos e que, pelo facto de não nos conseguirmos “sentar à mesma mesa” para discutirmos as diferenças, criamos julgamentos e pensamentos contrários. Quando conseguimos resolver os nossos conflitos libertamo-nos; pelo contrário, quando os levamos às últimas consequências tornamo-nos amargos e encaramo-los como factos nocivos. Assim sendo o caminho a seguir é enfrentá-los, já que lutar é não entender, julgar é achar que se é o melhor, contrariar é perder a oportunidade, fugir é perder, aceitar é resolver.

As nossas famílias, por elas e pelas suas crianças, precisam de se entender porque… precisam de ser felizes!

E, por isso e para isso, precisam de ser ajudadas e acompanhadas cabalmente. Enquanto assim não for, as nossas crianças NUNCA terão os seus direito assegurados, e o país que assinou a Convenção dos Direitos da Criança está em falta para com esses Direitos ou seja em falta com os Direitos Humanos.

João dos Santos alertou, há muitos anos atrás, para a necessidade de se dar à criança  condições para nascer  e crescer em ambientes familiares saudáveis, onde possam prevenir a tempo as perturbações  psíquicas, as dificuldades de aprendizagem, a rejeição escolar e a violência em todas as idades e formas.

Mas não, continua a não ser "ouvido" e, assim sendo, os maus tratos, o abuso sexual...a morte, continuará a abrir telejornais, a merecer reuniões urgentes para "inglês ver", em jeito de "expiação de culpas".

Trezentos processos um técnico? "Meus Deus, meu Deus, perdoai-lhes pois não sabem o que fazem".



sábado, 24 de janeiro de 2015

Drogas, Afetos e Direitos - uma relação direta

"Chamaram-me maricas porque não quis ir com eles até à sede dos drogados"

Assim falava, no regresso de uma escola do 2° CEB, uma criança de dez anos.
Preocupante. Inadmissível. Incompreensível.
O consumo de drogas está inserido no dia-a-dia de um bom (mau)  número  de crianças e jovens que frequentam as nossas escolas. A procura de viver momentos mágicos e de aliviar o desconforto provocado pela pobreza e pela falta de afeto, bem como a ausência  de valores de cidadania, aliado a gentes sem escrúpulos que fazem do tráfico o seu modo de vida, são alguns dos fatores  que levam a um elevado consumo de drogas por crianças e jovens.
Preocupante.
É sabido que o consumo de drogas constitui um dos principais problemas da sociedade moderna, mas o seu consumo por crianças e jovens é, sem dúvida, a  faceta mais preocupante dessa realidade. E sendo preocupante por razões várias, mais o é pelo facto daquelas estarem em estado de formação, e o consumo comprometer tanto o seu futuro quanto o futuro da sociedade. Cientificamente, ninguém tem dúvidas  que as consequências do uso de estupefacientes e de bebidas alcoólicas na  infância  e na juventude são devastadoras, muitas vezes com danos irreversíveis para o seu desenvolvimento.
Assim sendo, é preocupante que uma criança de dez anos diga que na escola existe uma "sede" de drogados; é preocupante que as famílias continuem a guerrear-se entre si, esquecendo-se das necessidades afetivas dos seus filhos, "empurrando-os" para os "braços" dos traficantes.
Inadmissível.
É inadmissível, mas infelizmente é uma realidade,  a droga a cada dia que passa atinge um maior número de crianças com menos idade. Todos sabemos disso, mas fazemos muito pouco. (Por vezes preferimos não ver, não ouvir para não agirmos).
Quando será, que se garantirá às nossas crianças e jovens aquilo que lhes é assegurado por lei? Quando será que os governantes terão, verdadeiramente, a intenção de fazer valer os direitos das nossas crianças e jovens?
Mas, também, quando será que os pais, as famílias e a sociedade se unem em torno do amor e do afeto, para que as crianças não se sintam sozinhas, perdidas e à mercê  do "conforto" da droga e do álcool?
Incompreensível.
É incompreensível que nos dias de hoje, em que o conhecimento e a informação estão disponíveis em grande quantidade e que, quase todos saibamos o quão são fundamentais as relações  familiares primárias, que  se viva numa  sociedade carente de mãe e pai, na qual faltam limites e critérios norteadores face às ansiedades dos filhos.
É incompreensível que as relações afetivas primárias estejam tão deturpadas pela ausência ou má qualidade dos vínculos primários, que acabam por comprometer a autoestima da criança e do jovem, assim como o desenvolvimento das potencialidades afetivas, cognitivas, criativas e reparadoras.
É incompreensível que não se tenha presente que quando os vínculos primários são fortes, as possibilidades do jovem  manifestar comportamento antissociais  são menores do que quando os vínculos com os pais não existem ou são fracos.
A intenção de escreve sobre este assunto não é encontrar responsáveis pelo que está acontecer às nossas crianças. A intenção é FAZER UM APELO para que os pais, famílias, escolas, políticos e, de uma maneira geral todos os responsáveis pelo bem estar social de nossas crianças e jovens, comecem a agir de forma responsável, assegurando-lhes os seus DIREITOS.

"- E ficaste preocupado por te chamarem maricas?
- Sim, porque eles são meus amigos. E se não vou com eles deixo de ter amigos."