sábado, 24 de janeiro de 2015

Drogas, Afetos e Direitos - uma relação direta

"Chamaram-me maricas porque não quis ir com eles até à sede dos drogados"

Assim falava, no regresso de uma escola do 2° CEB, uma criança de dez anos.
Preocupante. Inadmissível. Incompreensível.
O consumo de drogas está inserido no dia-a-dia de um bom (mau)  número  de crianças e jovens que frequentam as nossas escolas. A procura de viver momentos mágicos e de aliviar o desconforto provocado pela pobreza e pela falta de afeto, bem como a ausência  de valores de cidadania, aliado a gentes sem escrúpulos que fazem do tráfico o seu modo de vida, são alguns dos fatores  que levam a um elevado consumo de drogas por crianças e jovens.
Preocupante.
É sabido que o consumo de drogas constitui um dos principais problemas da sociedade moderna, mas o seu consumo por crianças e jovens é, sem dúvida, a  faceta mais preocupante dessa realidade. E sendo preocupante por razões várias, mais o é pelo facto daquelas estarem em estado de formação, e o consumo comprometer tanto o seu futuro quanto o futuro da sociedade. Cientificamente, ninguém tem dúvidas  que as consequências do uso de estupefacientes e de bebidas alcoólicas na  infância  e na juventude são devastadoras, muitas vezes com danos irreversíveis para o seu desenvolvimento.
Assim sendo, é preocupante que uma criança de dez anos diga que na escola existe uma "sede" de drogados; é preocupante que as famílias continuem a guerrear-se entre si, esquecendo-se das necessidades afetivas dos seus filhos, "empurrando-os" para os "braços" dos traficantes.
Inadmissível.
É inadmissível, mas infelizmente é uma realidade,  a droga a cada dia que passa atinge um maior número de crianças com menos idade. Todos sabemos disso, mas fazemos muito pouco. (Por vezes preferimos não ver, não ouvir para não agirmos).
Quando será, que se garantirá às nossas crianças e jovens aquilo que lhes é assegurado por lei? Quando será que os governantes terão, verdadeiramente, a intenção de fazer valer os direitos das nossas crianças e jovens?
Mas, também, quando será que os pais, as famílias e a sociedade se unem em torno do amor e do afeto, para que as crianças não se sintam sozinhas, perdidas e à mercê  do "conforto" da droga e do álcool?
Incompreensível.
É incompreensível que nos dias de hoje, em que o conhecimento e a informação estão disponíveis em grande quantidade e que, quase todos saibamos o quão são fundamentais as relações  familiares primárias, que  se viva numa  sociedade carente de mãe e pai, na qual faltam limites e critérios norteadores face às ansiedades dos filhos.
É incompreensível que as relações afetivas primárias estejam tão deturpadas pela ausência ou má qualidade dos vínculos primários, que acabam por comprometer a autoestima da criança e do jovem, assim como o desenvolvimento das potencialidades afetivas, cognitivas, criativas e reparadoras.
É incompreensível que não se tenha presente que quando os vínculos primários são fortes, as possibilidades do jovem  manifestar comportamento antissociais  são menores do que quando os vínculos com os pais não existem ou são fracos.
A intenção de escreve sobre este assunto não é encontrar responsáveis pelo que está acontecer às nossas crianças. A intenção é FAZER UM APELO para que os pais, famílias, escolas, políticos e, de uma maneira geral todos os responsáveis pelo bem estar social de nossas crianças e jovens, comecem a agir de forma responsável, assegurando-lhes os seus DIREITOS.

"- E ficaste preocupado por te chamarem maricas?
- Sim, porque eles são meus amigos. E se não vou com eles deixo de ter amigos."


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