segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A criança cresce e aprende no jardim de infância

A criança ao entrar para o Jardim de Infância já assimilou e trabalhou internamente uma quantidade significativa de informação, já domina um grande grupo de conhecimentos, capacidades físicas, maneiras de comunicar o que sentem e o que pensa e uma série de identificações com o seu meio familiar ao qual se sente estritamente ligada e a tornam capaz de continuar a crescer.
A criança de 3 a 6 anos tem uma vontade insaciável de explorar, de agir sobre as coisas e de pensar as suas acções. Ela vai sendo cada vez mais capaz de reflectir sobre os seus comportamentos e a sua memória vai se tornando mais duradoura, pode agora pensar a acção e está até mais interessada em pensar a explicação dessa acção, para formar planos de acção futura. No seu comportamento deixam de ser visíveis os esboços do seu pensamento porque os planos de acção vão sendo também interiorizados progressivamente.
Esta percepção do mundo que a rodeia, em conjunto com a fantasia, a imitação e a representação, que lhe serve para pensar o real, para o compreender intimamente, é o canal privilegiado para aprender, por partes, em passos curtos, de processos e imagens mentais, em formas de registo mnésico que possibilitam a acomodação e uma busca constante de equilibração. Mas para que o processo seja de crescimento global e harmonioso, exige um paralelo crescimento afectivo, em que se jogam a segurança do poder explorar um território cada vez mais vasto e investi-lo, percorrendo-o até ao seu "horizonte", tendo como base alguém que neste novo espaço alimenta e acalenta a relação, a educadora. Porque muitas vezes a criança vive este espaço de jardim como vive, ainda, o lar, nele também vive o adulto como vive a mãe.
O papel do educador é assim muito afectivo, pois como incentivador das experiências, proporcionador das actividades e facilitador de meios e materiais estimulantes a serem moldados ao sabor da descoberta e da representação do mundo, para a sua compreensão, ele tem que se envolver e investir na relação com a criança, proporcionando liberdade de escolha, respeitando a sua vontade incentivando a sua participação, tendo em conta  a sua disponibilidade e a fase de maturação que  lhe apresenta, para não exigir de mais e conhecer e amparar, o que a criança é capaz de pensar.
O raciocínio da criança, a sua atenção e percepção são condicionadas pelo seus interesses e fixam-se nos estados resultantes da acção- centração- não a deixando perceber o todo.
A educadora poderá sempre estar atenta às manifestações da criança, muitas vezes inconscientes, que poderão modificar o investimento nas acções e a maturidade que apresenta para participar activamente nas experiências. A criança, porque vai descobrindo cada vez melhor o seu corpo, percorre estas idades sensível às diferenças que apresenta anatomicamente em relação ao outro sexo, investe o seu pensamento no que é afinal ser menino ou menina, porque é que o outro tem e eu não tenho e enquanto vai respondendo a estas suas questões vai se confirmando, se esta fase for bem resolvida dela sairá mais forte e pronta a iniciar caminhos diferentes do outro sexo.
A sua posição no triângulo familiar, leva-a a questionar donde vêm os bebés, como é que nasceu,  indo  buscar respostas no brincar aos pais e às mães, no jogo simbólico. O desvendar destas curiosidades intensas da criança poderá ser acompanhado pela educadora no contar de histórias, dando forma aos pensamentos da criança, evitando bloqueios intelectuais por inibição da curiosidade que mais tarde ocasionarão dificuldades de aprendizagem.
A criança cresce brincando. O seu mundo está povoado de brinquedos e com eles ela convive no imaginário, no fantástico, num espaço de transição entre o interior e o exterior, o campo da actividade simbólica, onde é poderosa, onde tudo controla. «A realidade sem elementos fantasiados é dura, fria e emocionalmente não satisfatória, mesmo quando parece vir ao encontro das nossas necessidades. Se queremos ter uma vida que nos dê satisfação, então os nossos mundos interiores e exteriores têm de ser integrados de uma forma harmoniosa.» (Bettelheim,1987)
 «Uma criança que não brinca, que não pode experimentar-se... que não jogou esses jogos de identificação, que não encontrou ecos de apoio nos que a rodeavam, tem mais dificuldades em viver coerentemente consigo e em dar espaço aos outros.» (Santos,1983)
O jardim-de-infância é também um espaço privilegiado para crescer com o jogo simbólico, com o desenho, a expressão corporal como actividade de transição entre dois mundos. Sendo o jogar e o brincar o meio natural de expressão da criança, ao educador cabe não só proporcionar-lhe essa oportunidade, como saber aproveitar toda a comunicação da criança para melhor a entender e com ela partilhar as suas descobertas, funcionando como o elo de ligação entre as suas duas realidades, devolvendo-lhe um sentimento de auto-estima, de que é aceite e de que o que investe tem valor.
O jardim em que se estabelecem boas relações afectivas, em que a criança deseja brincar e ser feliz, é um verdadeiro espaço de crescimento e de enquadramento evolutivo de uma aprendizagem que se faz lenta mas pensada e permite à criança que se estruture, crescendo mais um pouco.

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