terça-feira, 26 de outubro de 2010

O mau-trato entre iguais - “bullying" (II)

Um estudo realizado no nosso País, a cerca de 7.000 crianças e jovens em idade escolar mostrou que, aproximadamente, um em cada cinco alunos (22%) entre seis e dezasseis anos já foi vítima de “bullying” na escola. Este estudo avaliou, igualmente, que o local mais comum da ocorrência de maus-tratos é os pátios de recreio (78% dos casos), seguidos dos corredores (31,5% dos casos) (Almeida, 2003).
Portanto, as situações de “bullying” não são brincadeiras ou simples desentendimentos pontuais entre crianças e jovens. Esta problemática tem implicações do ponto de vista da prática educativa, e as suas diferentes manifestações devem preocupar os pais, os professores e os educadores. (Por vezes é nas escolas que dizem que não têm situações de “bullying” que ele mais existe).
No entanto, nem todas estas ocorrências podem ser caracterizadas como “bullying”. Alguns episódios esporádicos e brincadeiras próprias de cada idade, mesmo com comportamentos por vezes inadequados, não trazem consequências para a auto-estima e fazem parte do desenvolvimento e da socialização da criança e do jovem.
 Dizem os estudos que a melhor forma de combater o “bullying” é evitá-lo e, para tal, torna-se fundamental falar dele.
As escolas devem encontrar-se estratégias para prevenir e controlar o “bullying”, já que nenhuma está imune ao mesmo, (a prevenção deve estar em primeiro lugar).
O primeiro passo deve ser avaliar o entendimento que pais, alunos, professores e todos os funcionários da escola, têm sobre este mau-trato e a frequência com que ele ocorre na visão de todos. Depois é preciso tempo e habilidade para lidar com as crianças envolvidas, bem como  com as suas famílias, sendo necessário que os professores tenham ao seu dispor suportes adequados que os ajudem nesta matéria.
Torna-se necessário que toda a comunidade educativa seja envolvida pelo que é fundamental informar, sensibilizar, conscientizar e mobilizar para esta problemática, de forma a que todos tenham presente que a melhor forma de tratar o “bullying” é evitar que ele ocorra; que qualquer criança ou jovem pode estar a sofrer deste mau-trato (como vítima, como agressor ou observador); que qualquer forma de “bullying” é inaceitável; que, normalmente, os adultos não são testemunhas do “bullying”e; que não deve ser ignorado o facto da criança ou jovem se manifestar afirmando que está a ser vítima ou observadora.
Duas notas finais sobre este assunto.
A primeira é que o “bullying” pode ser causado por outras crianças e jovens, mas pode estar presente na relação de pais e filhos e entre professor e aluno. Alguns exemplos disso são o daqueles adultos que ironizam, ofendem, expõe as dificuldades perante o grupo, excluem, fazem chantagens, colocam apelidos preconceituosos e têm a intenção de mostrar a sua superioridade e poder, usando este comportamento frequentemente.
A segunda é que as crianças e os jovens estão a ser, actualmente, vítimas de um outro tipo de intimidação. Trata-se do “cyberbullying”. A exposição vem pela internet e, muitas vezes, a vítima nem sabe que está sendo alvo dessas “brincadeiras”. Noutras, até descobre mas não consegue  defender-se porque o agressor é anónimo. Hoje em dia basta entrar na internet para encontrar e colocar na rede, brigas  e outros comportamentos desajustados de crianças e jovens, gravados através dos telemóveis uns dos outros.
Por último importa ter presente que é de todo importante, que o direito ao respeito e à dignidade pela criança e pelo jovem são valores fundamentais, sendo a educação entendida como um meio de promover o pleno desenvolvimento da pessoa, bem como prepará-la para o exercício pleno da cidadania. Todos queremos e desejamos que as escolas sejam ambientes seguros e saudáveis, onde crianças e jovens possam desenvolver, ao máximo, as suas potencialidades intelectuais e sociais, não se podendo admitir que sofram actos de violência que lhes tragam danos físicos e/ou psicológicos; que testemunhem tais factos e se calem para que não sejam também agredidos e acabem por achá-los banais ou, pior ainda, que diante da omissão e tolerância dos adultos, adoptem comportamentos agressivos ou, simplesmente, achem que a vida é uma vida de violência e, como tal, não vale a pena viver.

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