quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A criança, os outros e a escola

             É sabido que a criança ao chegar à escola é portadora de potencialidades criadoras, que são reveladas através do prazer de se movimentar, de brincar, jogar, construir, desenhar, pintar, modelar, cantar e dançar.
A escola faz apelo a um crescimento intelectual que deve estar desenvolvido e que irá permitir à criança deixar de pensar dominada pelas suas percepções imediatas e estar disposta a dar mais atenção às situações. É o período das operações concretas, elas são possíveis porque a criança já amadureceu os seus esquemas mentais ganhando cada vez maior mobilidade no seu raciocínio. Os esquemas mentais vão, nesta fase, começar a ser organizados hierarquicamente em estruturas de classes e relações lógicas, permitindo a reversibilidade de pensamento, a descentração e o final do egocentrismo com o reconhecimento do ponto de vista do outro.
Na escola a criança vai ter inúmeras oportunidades de convívio relacional que lhe possibilita uma saudável harmonia de objectivos comuns com os seus companheiros em forma de cooperação e grande facilidade de comunicação, o jogo de regras em que já entende bem o seu papel e o dos outros, vai ser jogado e organizado de comum acordo e alterado, por vezes, nas suas regras que possam exercitar a sua autonomia, poder de decisão e confirmação pessoal.
Quanto mais pensar as suas acções e relações com os outros, em interacção humana, mais desenvolverá os seus raciocínios visto que eles são motivados pela necessidade de se comunicar e explicar os seus pensamentos. Com os colegas ela reforça o seu eu porque se identifica com eles não pela maneira como são mas pela projecção das qualidades e expectativas que idealiza e ver confirmadas ou contrariadas nas atitudes para consigo próprio, funcionando estes como investimento positivo, como “auxiliares do eu”.
Ela agora pensa e repensa tornando-se mais consciente de si mesma, numa equivalência à separação da mãe em que se encontrou como objecto entre objectos, agora vê-se como um pensador entre outros pensadores, o que antes tinha surgido da interacção com os objectos, surge agora da interacção com os outros, principalmente com os seus pares.
Aprender será sempre curiosidade em encontrar respostas em situações, em modificar e modificarmo-nos, relacionando-nos com o meio em que vivemos, que é a nossa grande casa, que progressivamente se vai tornando cada vez maior, para nos acolher porque crescemos empenhados e motivados, por isso é que "aprender não está relacionado com quem ensina mas com quem deixa que se aprenda (isto é que se descubra), com as circunstâncias que disponibilizam para aprender e com aquilo que se aprende evoca de bom ou mau dentro de nós." (Eduardo Sá)
As experiências escolares desenvolvidas com base segura na escola, tendo como figura de ligação o professor disponível e contentor de angústias, motivador de conhecimentos que a criança vai sendo capaz de estruturar consoante a sua maturação emocional e física, vai permitir-lhe o deixar-se avaliar numa "apreciação escolar que incide sobretudo no domínio das artes e técnicas, da mestria, do saber e do saber fazer, da qualidade, mais estrutural do que semântica, das produções. " Fazer bem feito", ter " muitos certos", (Teresa Sá), confiando que o professor não permite que os insucessos se perpetuem como coisa irremediável e irá procurar com ela as razões que a preocupam e que a levam a não pensar.
Por outro lado a criança projecta-se, o que faz com sinceridade, sendo portanto necessário saber respeitar essa sua autenticidade. Contrariá-la, negá-la, é dificultar a relação que deve existir correctamente, entre o adulto e a criança. É igualmente levá-la ao sentimento de incapacidade e não atender à sua real necessidade de comunicar com os outros e com o mundo que a rodeia e a uma incorrecta auto-estima e auto-imagem.

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