quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

“Batido de ritalina para toda a gente”

«O PHDA (Perturbação de Hiperactividade e Deficiência de Atenção) é um slogan publicitário à procura de um sindroma a procura de uma desordem em busca de uma causa». Jeff Victoroff
Provavelmente alguém irá dizer que, “estou a meter a foice em seara alheia” ao escrever sobre este tema. Desde já lhes digo que têm razão. Mas também lhes digo que começo a ficar cansado, perturbado, aflito, preocupado e… por aí fora, com este “sindroma/desordem” mental. E digo porquê: tudo o que é alteração comportamental na criança é PHDA e é tratado, quase sempre, com a famosa “ritalina” que se pensa que terá sido usada, pela primeira vez, pelos soldados nazis para aumentar a sua concentração no campo de batalha.
O diagnóstico para uma PHDA tem que ter quatro dos seguintes comportamentos durante 6 meses seguidos: enervar-se frequentemente; discutir frequentemente com adultos; recusar-se frequentemente a aceitar as regras e ordens dos adultos; frequentemente aborrecer, deliberadamente, os outros; culpar, frequentemente, os outros pelos seus actos; frequentemente ser sensível às críticas dos outros; estar frequentemente aborrecido ou ressentido e; frequentemente vingativo. (Não é isto ser, frequentemente, criança pergunto eu?)
Em plena era do avanço das neurociências, dos estudos sofisticados sobre a neuroimagem e a farmacogenética onde vemos o cérebro em pleno funcionamento, para não falar do desenvolvimento galopante da neurogenética, que está a chegar cada vez mais perto das alterações neuroquímicas que ocorrem no cérebro a cada instante, fico abismado com a facilidade com que as crianças, hoje em dia, são rotuladas e medicadas.  
E vai daí “batido de ritalina para todos”, pois é a solução para resolver os problemas emocionais e de comportamento.
Vejamos o que nos diz Peter Breggin: “descobri que quando dão ritalina a animais eles deixam de brincar, deixam de ser curiosos, deixam de socializar, deixam de fugir; o uso da ritalina gera bons animais de gaiola…nós estamos a gerar boas crianças de gaiola». Por outro lado uma nova descoberta publicada no Jornal de Psiquiatria da Academia Americana da Criança e do Adolescente, provou que a ritalina atrasa o crescimento das crianças. E mais: a ritalina é classificado pela Drug Enforcement Administration como um narcótico de Tabela II — a mesma classificação que a cocaína, a morfina e as anfetaminas, e vendê-la a crianças é um crime. No entanto fornecer ritalina para crianças, mesmo sem prescrição médica, é definido como "tratamento".
É dito pelos especialistas que a administração de drogas fortes nas crianças altera a mente e, na realidade, é uma forma de abuso químico, que ainda hoje é tolerado porque é formulado numa linguagem terapêutica.
Pronto: é desta que me vão chamar ignorante, provocador e… “não sabe o que diz”.
Mas, é ou não verdade, como no diz Hyperactive Children's Support Group, e The Food Commission  que a ritalina causa os mesmos problemas que deveria tratar – falta de atenção, hiperactividade e comportamento impulsivo?; que muitas crianças se tornam robôs, ficam letárgicas, deprimidas e introvertidas quando estão a tomar ritalina?; que a ritalina pode retardar o crescimento da criança ao romper os ciclos dos harmónios de crescimento libertados pela glândula pituitária?; que a ritalina geralmente causa graves distúrbios no cérebro da criança? (Pesquisas científicas mostraram que pode causar atrofia ou outras anomalias físicas permanentes no cérebro); que quando a criança pára de tomar a ritalina, pode ocorrer sofrimento emocional, incluindo depressão, esgotamento e até suicídio?; que  a ritalina reprime as actividades criativas, espontâneas e independentes na criança, fazendo com que se torne mais dócil e obediente e mais disposta a realizar tarefas rotineiras?
Como fazer então?
Em primeiro lugar é preciso ter cuidado com os “rótulos” pois a maioria das nossas crianças são falsos hiperactivos. Muitas são crianças que não se adaptam ao esquema rígido das escolas e, por isso, comportam-se como hiperactivos, mesmo sem ter disfunção bioquímica. Por vezes a “agitação” e “impulsividade” podem ter apenas a ver com problemas comportamentais ou ainda como reacção à sensação de inadequação na escola ou a mudanças repentinas de vida como, por exemplo, o divórcio dos pais.
Em segundo lugar há muito que defendo a necessidade de uma intervenção com base na psicoterapia junto da maioria das crianças que estão a passar por distúrbios e conflitos, isto porque, o afecto e o comportamento da pessoa são determinados pelo modo como ele se estrutura no mundo sendo a partir do processo terapêutico, que a criança tem a possibilidade de, digamos, de “re-significar” vivências e pensamentos podendo, assim, descobrir outras maneiras de ver a realidade e formas de viver mais satisfatórias aos objectivos deste viver.

A psicoterapia infantil visa auxiliar a criança e os pais e/ou professores/educadores, face a um menos satisfatório desenvolvimento emocional ou social da criança, construindo e reconstruindo ambientes que proporcionem tempo e espaço à criança e aos pais e/ou professores/educadores, para que pensem nas suas relações, nas suas escolhas, nas suas dificuldades, nos seus sonhos, nas suas possibilidades, espaço este no qual a criança possa experimentar, escutar, sentir, fantasiar…

Mais uma vez direi: sem relação afectiva não há vida. A psicoterapia é, em meu entender, um caminho afectivo.

É que, como nos disse João dos Santos, “não deve ser esquecido que a função racional e emotiva do ser humano assenta no que lhe deu origem e lhe confere progressivo aperfeiçoamento e sentido: a relação, o afecto e o sonho”

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