quinta-feira, 24 de março de 2011

Projectos educativos de escola – perspectivas (II)

Parece hoje comum afirmar-se que a relação escola/família é uma dimensão importante do trabalho educativo, sem o qual a escola tende a construir respostas restritas e inadequadas face às características dos alunos e à sua experiência sócio familiar. É reconhecida a importância da família como primeiro espaço socializador, com o qual a escola deve estabelecer relações de proximidade, com vista a um melhor conhecimento da criança. São no entanto sobejamente conhecidas as dificuldades experimentadas quando se trata de partilhar espaços e poderes, - sendo recíprocas as acusações e as defesas - e a ausência de um trabalho, de troca de saberes e perspectivas.
          O trabalho com as famílias e com a comunidade funciona mais como um adorno pedagógico do que como mudança efectiva. Ora o trabalho de projecto centrado numa perspectiva de desenvolvimento local deve assentar na valorização da escola e da família num paralelo com toda a comunidade de pertença, criando uma mudança instituinte de uma globalização da acção educativa, no quadro de um território educativo onde a escola se assuma como entidade capaz de operar mudanças, gerindo os recursos locais e a sua relação com os projectos e programas de intervenção, de forma a permitir o enraizamento social e o sucesso educativo e não só reproduzir desigualdades.
          A escola como espaço local de educação, pode então ser considerada como factor de extrema importância no processo de desenvolvimento, desde que esteja organizada de uma forma aberta à comunidade e à sua cultura, - escola charneira - valorizando os seus saberes, ajudando a superar certos constrangimentos, respondendo, entendendo e acolhendo os interlocutores locais, mobilizando recursos existentes no território local, satisfazendo assim as necessidades educativas e formativas das populações e ao mesmo tempo inovando partindo desses mesmos recursos e dessas necessidades.
          "A passagem de um modelo de escola "serviço local do Estado" para uma organização escolar entendida como "centro local de educação" é um processo social complexo, conflituoso, que obrigará à clarificação de muitos conceitos, papéis e funções" (Azevedo, 1994), mas será o modelo que construirá uma escola orientada pela, e para a preocupação, de um processo local e global de desenvolvimento integrado, pressupondo a capacidade de uma articulação, em rede, - sistema ecológico - numa perspectiva de constituição de territórios educativos, [(...) espaço de relações e trocas baseado num projecto idealizado e executado por todos os intervenientes (Pinhal, 1995)],  diferentes escolas de diferentes comunidades em torno de projectos integrados e integradores.
          Uma escola, verdadeiramente comprometida num processo de organização escolar com dinâmica social de parceria com outras instituições e agentes locais, deverá utilizar métodos de envolvimento, os quais, estão estreitamente ligados às diferentes etapas de cada projecto, utilizando uma pedagogia que deve ser um meio de formação através de condutas de participação, de negociação e de compromisso o que tem subjacente um modelo organizacional de parceria.
          Esta metodologia passará por uma fase inicial de sensibilização, informação, motivação, envolvendo a comunidade; prosseguirá numa fase de diagnóstico e de elaboração do projecto o que permite identificar problemáticas e decidir as acções a conduzir e; concluirá numa fase de concretização,  de acompanhamento e de avaliação.
          No entanto e porque "as realidades são constantemente criadas e recriadas pelos actores, através da forma pela quais percebem e interpretam as características do meio em que agem" (Pinhal, 1995), essa avaliação conduzirá a novos projectos prosseguindo assim o desenvolvimento comunitário, "no sentido de contribuir para a globalização da acção educativa, no quadro de um território comunitário, estabelecendo sinergias entre educação formal e não formal, articulando educação escolar e extra-escolar, educação de adultos e de crianças" (Canário, 1983 citado por Matos, 1997).

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