segunda-feira, 21 de março de 2011

Projectos educativos de escola – perspectivas (1)

Uma maior abertura da escola à comunidade deve assentar, principalmente, no reconhecimento de que a educação é uma das dimensões importantes das políticas de desenvolvimento, radicando esta importância no factor de que esse processo permite a adequação dos projectos de escola às necessidades das comunidades permitindo um planeamento global de natureza estratégica e uma gestão mais racional dos recursos a nível local respondendo, simultaneamente à autonomia e identidade da escola, devendo esta estar plenamente ao serviço da mudança e da consciencialização comunitária, valorizando-se assim a criação de redes e canais de comunicação, articulando os espaços formais e não formais da educação contribuindo efectivamente para a redução das desigualdades sociais, encontrando mecanismos que promovam o sucesso escolar, pessoal e profissional.
          Partindo destas premissas, o papel da escola passa por etapas "interiores" mobilizadoras e motivadoras para a mudança de atitudes, pela aquisição de novos conhecimentos no sentido de intervir no meio, o que deverá acontecer pela introdução de metodologias de intervenção - acção, as chamadas metodologias de projecto, centradas numa pedagogia que atribui ao indivíduo o papel de actor e sujeito da sua própria formação. Assim, os vários intervenientes: professores, técnicos, animadores, leaders das instituições públicas e privadas e população local, podem interagir, criando e recriando as condições indispensáveis à alteração da situação das populações e do meio, o que implica que a educação deve ser "dirigida para a co-responsabilização sobre o mundo em que vivemos, o que só é viável com o seu conhecimento e com o sentido do dever e liberdade/autonomia para nele actuar conscientemente" (Moreno, 1996).
          Assim sendo há que, forçosamente, conceber uma escola que responda a um modelo de desenvolvimento endógeno valorizando os recursos locais - humanos e naturais. Educação e desenvolvimento deverão caminhar a par, sem ambiguidades, sem que a primeira surja encrostada a interesses específicos de determinados segmentos da sociedade civil, " visando a dupla promoção do sucesso escolar e a apropriação territorial", apoiada" numa perspectiva construtivista, em que boa parte do ensino tomará a forma de orientação personalizada dos alunos" (Moreno, 1996). Então o professor sendo um agente local, para além da transmissão de um saber global comum, serviria de mediador/negociador num processo educativo com impacto real junto das populações, em que os destinatários se transformariam em parceiros, transformando os projectos de escola de meros processos de "interligação com a comunidade" com intervenção socioeducativa, em projectos com uma forte componente de interacção socioeducativa, permitindo a médio prazo um percurso de desenvolvimento local intra-integrado.
          Conceber e executar um projecto de educação centrado nestas premissas, exige uma transformação dos sistemas convencionais de ensino baseados em espaços especializados, numa relação unidireccional professor/aluno, em programas de estudo totalmente pré-definidos e em que a acção educativa é uma mera extensão institucional.
          Esta transformação passa por uma intervenção política concertada, que enquadre regionalmente objectivos nacionais em projectos educativos locais, em que a escola, permanecendo autónoma, conte com o apoio da comunidade que serve, mas sobretudo, troque com ela ideias, experiências, reflexões e projectos, dando sentido concreto aos princípios da participação. Os projectos educativos de escola assim concebidos, tendo por base projectos próprios, que integrarão aquela participação como "elemento chave de uma política de desenvolvimento que permite adequação dos projectos a necessidades reais da população, que possibilita a optimização dos recursos locais, que reforça a identidade colectiva e que contraria os efeitos perversos de políticas centralizadas, traduzidas no acentuar de assimetrias" (White, 1982, citado por Matos, 1997), que invalidam o processo de envolvimento passo essencial do processo de desenvolvimento.
           Na linha do conceito de desenvolvimento local, o projecto educativo pode efectivamente ser uma instância de intervenção importante, que mobiliza estratégias, parceiros e recursos em referência a uma comunidade específica (como território, mas também como espaço de sociabilidades e representações), e permite "a concertação de objectivos e a coordenação de recursos entre o poder autárquico, os agentes económicos, e culturais e as próprias escolas" (Barroso, 1992 citado por Matos, 1997).
          Neste sentido, um outro aspecto a ter em conta, necessariamente ligado ao anterior, é de que o projecto educativo venha alterar uma perspectiva redutora da educação, redimensionando-a a "um alargamento do âmbito da intervenção educativa, em termos de espaços, tempos e de factores sociais envolvidos, percussões nas relações de poder e de saber no interior da escola" (Canário, 1992). Com esse fim estes projectos terão que ir mais além do que, o dinamizar uma abertura da escola, com "a criação de espaços curriculares, centrados no estudo do meio, na multiplicação de saídas, na realização de reuniões de pais", investindo fundamentalmente na "alteração das modalidades de trabalho pedagógico", ou seja, "a passagem de uma lógica de consumo para uma lógica de produção que dá a medida da adequação do contexto escolar ao contexto social e cultural, à diversidade dos alunos, às suas experiências, saberes e interesses" (Canário, 1992).

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