quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A criança e a violência (II)

A violência, perante a criança, acontece, na maioria dos casos, no anonimato da família e algumas vezes, com a conivência de familiares e de vizinhos. Muitos dos maus tratos acontecem em famílias normais, não pobres.
Romper o silêncio é difícil. Até porque quem agride é alguém de quem se gosta. Uma criança que vive numa situação de violência frequente banaliza, muitas vezes, os próprios actos de violência. Isto não quer dizer que não sofra, quer dizer que tem uma resistência diferente.
Os maus tratos dentro da família são aqueles que piores consequências têm na criança, dado que se verifica uma quebra profunda de confiança e uma perda de segurança em casa, o que constitui uma ameaça profunda ao seu desenvolvimento.
Nos últimos anos, a investigação tem demonstrado que a vitimização infantil, em especial os maus tratos intra-familiares, leva a consequências a curto e longo prazo no que concerne ao desenvolvimento emocional, interpessoal e a problemas no comportamento da criança, e que os efeitos dos múltiplos maus tratos estão associados, à depressão, à ansiedade, ao isolamento, aos comportamentos hiperactivos e anti-sociais, à agressão...
Há muito que está assumido que as crianças vítimas de maus tratos físicos ou psicológicos, vive num contexto de violência doméstica. É nosso entendimento que aquelas que, nestas famílias, não são batidas diariamente estão em perigo pelo facto de viverem em ambientes disfuncionais. Uma percentagem importante destas crianças poderá tornar-se abusadores ou vítimas.
A quantidade de situações de violência doméstica é enorme, existindo muitas mulheres (e alguns homens) vítimas de maus tratos físicos e/ou psicológicos, insultos, humilhações e intimidações, isolamento da família e amigos, controlo económico, ameaças e agressões diversas...
A nossa realidade mostra-nos ainda que os agressores são, na maior parte das vezes, indivíduos com problemas de álcool e drogas, e que a grande maioria das situações que prefiguram casos de violência doméstica, são exercidas sobre mulheres pelos maridos ou companheiros.
Os maus tratos a crianças e jovens constituem, pela sua transcendência, um dos problemas mais importantes entre os que afectam a qualidade de vida na infância e na adolescência, com repercussões a vários níveis, designadamente no futuro das pessoas envolvidas.
 
           Álcool, consumo de drogas, desemprego e problemas de extrema pobreza são, geralmente, situações que acabam por se virar contra a criança. Quanto mais difícil é a situação familiar maior é o risco da criança ser maltratada.
O abuso familiar contra crianças e jovens pode trazer consequências a médio e a longo prazo, capazes de causar danos ao seu desenvolvimento físico e mental.    
Sabe-se hoje que a criança maltratada, se não for tratada correctamente para diminuir as cicatrizes psico-emocionais, poderá tornar-se uma agressora na idade adulta.
É pois indispensável que a intervenção técnica junto das crianças e jovens em perigo seja cada vez mais humanizada e individualizada, olhando para elas com a certeza de que cada uma tem direito a uma família natural ou adoptiva, e a um projecto de realização que respeite a sua identidade e personalidade.

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