segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Crescer e aprender

         Desde os primeiros momentos, a tarefa de cada um será dar um sentido à vida, sentindo num mundo à altura, razões que dêem alento remetendo para um projecto, com percalços inevitavelmente, períodos críticos, sensíveis onde o encontro/desencontro, fará a síntese da história pessoal de cada ser (o encontro com o passado/ presente/ futuro) de um crescimento em direcção a... Com tudo o que se foi, é e será experienciado, pensado e projectado...
         No início da história de cada um, o primeiro modelo é a mãe ou uma figura materna, suficientemente “boa e consistente” que irá colar ao bebé as características que gostaria que ele tivesse, são “os olhos da mãe,” que dão uma identidade, um sentido...
          Depois o tempo e a interacção, afectiva e cognitiva, que se estabelece entre os dois, permiti-lhes um vínculo e também no bebé a criação de uma base segura. A mãe vai introduzindo a distância, a tolerância à frustração, que paralelamente às suas vivências sensório - motoras que lhe irão proporcionar um caminho de separação e de individualização, será a fase da confiança básica versus desconfiança, ou seja o bebé confia na mãe mas também em si mesmo, porque vê confirmadas as suas expectativas, sendo o nascimento da esperança, em dar um sentido ao “vazio."
         Quando explora o mundo dos objectos, quando conhece os pais por dentro, ganhando o pai um valor incontestável, porque interage com ele e mostra-lhe um mundo mais alargado. As formas como os pais desenvolvem o seu modelo parental, será de extraordinária importância, quer no modo como são coerentes quer na forma como valorizam e estabelecem limites, pois estando a criança na fase anal, o sim e o não, a sua possibilidade de controlar-se dentro de um campo de escolhas, induzirá ao aparecimento da vontade e também da dúvida...será que os pais vão aceitar... gostar? Este momento será o da autonomia versus dúvida, quando bem alicerçada será o espaço daqueles que irão crescer, daqueles que darão espaço a si e aos outros...
         Vão existir sempre dois movimentos, o ser igual e ser diferente, identificando-se com os modelos parentais, construindo ao mesmo tempo a sua identidade. Estes momentos poderão por vezes ser difíceis, porém através do jogo simbólico e de outros meios de expressão, o prazer em estar com os outros (pais e pares) irão ajudar a superar este período de iniciativa versus culpa, devolvendo-lhe uma auto-estima coesa, nascendo neste momento, a coragem, conciliando o seu mundo interno com o externo, aparecendo por vezes o objecto transicional, que irá ajudar na transição, no salto para o outro lado...
         O outro lado, é o mundo mais alargado, a escola, onde não será propriamente a criança que irá ser valorizada mas as suas produções, como que num flash, ela fará agora a integração dos primeiros momentos e dos outros que se seguiram, equacionará este novo mundo com o Anterior, confirmando ou subvertendo o passado... Se o caminho foi natural, se a confiança básica, a esperança e a vontade foram espaços nela vividos, então o mundo da escola será uma aventura com a curiosidade inerente, a vontade de conhecer ao mesmo tempo de crescer. Se tudo isto não aconteceu, quer do lado da família quer da disponibilidade da escola, então o projecto de crescimento e aprendizagem, pode ficar comprometido.
         Partindo do princípio, que a escola confirma as experiências positivas do passado, proporcionando o professor modelos intermediários, ora centrípetos ora centrífugos conforme a situação, a criança desenvolverá a competência para elaborar as aprendizagens, para querer aprender e crescer, em vez de ficar voltada para si, de costas para o mundo... A forma como a família, a escolha, os amigos, interagem é significativa, pois são os seus modelos de funcionamento, que irão permitir, a manifestação de um percurso mais ou menos calmo, mais ou menos tumultuoso.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A criança, os outros, o conhecimento…(II)

No que respeita ao desenvolvimento social é nesta altura que há uma vida social muito intensa. Neste período as crianças agrupam-se muito por idades e mais tarde separam por sexos.
Interessante é verificarmos a sua evolução em termos da sua participação no jogo. Pelos 6 anos, não suporta perder ao jogo, chegando inclusivamente, se necessário, a fazer trapaça para ganhar; um ano mais tarde já aprendeu a perder, mas tem ainda que ficar no final a ganhar; aos 8 anos participa melhor no jogo, com mais cooperação, com menos insistência em levar a sua avante; é no entanto pelos 9 anos que aparece a autêntica actividade cooperativa: o bando ou o clube é uma coisa importante, podendo subordinar os seus próprios interesses e exigências à necessidade de se entender bem com o grupo, procurando estar à altura das suas normas e critica aqueles que não procedem assim.
Ao nível das brincadeiras de grupo, especialmente brincadeiras imaginativas, como às mães e aos pais e às compras que são habituais nas crianças com 6 /7 anos; pelos 8 anos começa a ser capaz de aceitar as regras ou linhas de orientação simples, sendo igualmente capaz de participar na organização de clubes de crianças, com designações e senhas secretas, mas de duração temporária; a partir dos 9/10 anos muitas crianças pertencem a alguma espécie de clube, gostando de agir e competir como tal e de onde excluem rigorosamente os não membros.
As experiências que a criança faz no grupo vão prepará-la para a vida social; vai evoluindo o seu crescimento mental e construindo o equilíbrio futuro. É na relação entre pares que se vai afirmando a respectiva personalidade; a criança vai tendo noção dos seus direitos; percebendo as rivalidades entre grupos; desenvolvendo a ajuda mútua; partilhando materiais; tudo isto é experiência para a socialização e por conseguinte para a vida.
Na adolescência o grupo e os amigos representam um porto de abrigo, seguro e alternativo, um espaço de inúmeras trocas afectivas e experiências. Os pares surgem nesta altura como o grupo, com o qual partilham senhas de identidade, no qual poderão ser criadores de cultura onde o seu conflito geracional tem eco, assim como o desejo de autonomia. O reflexo deste processo, mais não é de que a constituição da self, da sua identidade, que não poderá ser descontextualizada da interacção com o grupo.
A adolescência passa por ser a configuração da identidade pessoal a qual não se consegue sem confronto e desequilíbrios com o exterior e consigo próprio.
O “conceito de identidade” elaborado por Erikson pressupõe que a identidade constitui uma diferenciação pessoal inconfundível, a autodefinição da pessoa perante outras pessoas, perante a realidade e os valores, sendo a adolescência o período – chave e também crítico da formação e da identidade.
Ainda segundo Erikson o processo de identidade no período da adolescência pressupõe:
-         A consciência da própria identidade
-         O empenho inconsciente em constituir um estilo, uma forma de ser pessoal
-         O desejo de encontrar uma síntese de equilíbrio entre a esfera do eu e as actuações que deles derivam;
-         A procura da própria definição pessoal mediante uma vinculação social que se apoia no desenvolvimento de um sentimento de solidariedade para com as ideias de um grupo pelo qual se sente de algum modo representado.
A ligação vinculativa na adolescência ( Erikson), é a fase da ideologia, da formação de uma visão do mundo o que pressupõe aceitar a adolescência com um período em que os jovens estão em condições de escolher parceiros amorosos, de começar a captar, confrontar e assumir o sistema social de concepções, crenças, atitudes e valores dos grupos sociais em que vivem, relacionando-se com eles e tomando-os como regras e guias para a sua própria vida.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A criança, os outros, o conhecimento…(I)

“A aprendizagem da vida (...) está longe de se fazer sem os outros” (Rivier). Com a sua presença a criança vai desenvolvendo trocas de natureza diversa, vai escolhendo os seus parceiros e, em consequência disso reconhece e aceita a regra e o jogo social.
         A procura do outro e as inter-relações que se exprimem compreende a emergência e a evolução das diferentes etapas do desenvolvimento social e afectivo.
         Poder-se-á dizer que existe na criança uma actividade filiativa orientada em direcção ao grupo ou pessoa determinada; que as escolhas de parceiros onde dominam as relações a dois são relativamente estáveis; que as actividades coercivas dominam as actividades conflituais; que o desenvolvimento temporal das relações interpessoais evidencia que a criança que tem experiências precoces com outras, manifesta uma actividade social nitidamente mais elevada.
Desde a mais tenra idade que as crianças demonstram interesse umas pelas outras.
Se até por volta dos três meses, a criança é  indiferente à presença de outras crianças, em termos de relação ela reage ao seu grito, ao seu choro e até ao seu sorri, gritando, chorando e sorrindo também em espelho.
É no entanto a partir dos 6 meses de idade que iniciam tomam "contacto" com o outro; pela locomoção a partir dos 8/10 meses, começa um "jogo" de observação, de toques, de sorrisos e imitações tendentes a uma aproximação cada vez mais elaborada. Eckerman, Whately e Kutz (1975), citados por Diane Papalia (1981), contam-nos que, colocando juntos pares de bebés de 10 meses de idade, que se não conheciam, verificaram que eles manifestavam interesse uns pelos outros. Este interesse aumenta progressivamente à medida que as crianças vão crescendo e, cerca dos dois anos têm uma maior tendência para brincar uma com a outra do que quando sozinhos ou na presença das mães o que levou os autores a concluírem que, desde muito cedo a interacção entre as crianças as conduz a um bom caminho para a sua socialização.
Brazelton (1992) afirma a importância do relacionamento entre crianças a partir dos dois anos para que possam aprender a "dar e a receber em igualdade de circunstâncias" ou seja a fazerem uma aprendizagem da "reciprocidade". Deste contacto e deste relacionamento, nasce o reconhecimento de sinais de cedência e de liderança, favorecendo-se as aprendizagens por imitação.
Progressivamente e até cerca dos três anos, à medida que se vai descobrindo a si, vai igualmente descobrindo o outro como seu par o que passa por ser um estímulo à sua afirmação como pessoa.
A criança começa verdadeiramente a partir dos 3/4 anos a desejar estar com as outras crianças, interessando-se pelo que fazem, mas o facto de ainda não considerar como válido senão o seu ponto de vista. Progressivamente as interacções multiplicam-se e, também pouco a pouco, começam a agir em comum.
O desenvolvimento da socialização aparece bastante ligado à escolaridade, pois o natural alargamento dos horizontes sociais, determinado em termos de maturação, é concretizado pela entrada na escola.
A criança passa a conceber-se entre os colegas como uma unidade que pode juntar-se a grupos diferentes, que pode classificar-se diferentemente, segundo diversas actividades: corridas, jogos, capacidade escolar...
Claro que no início da escolarização aparece quase sempre algo parecido a um "choque", já que passa de um meio afectivamente favorável para um outro onde se tem que movimentar entre "iguais" e embora se encontre apta a enfrentar essa nova situação, esta causa alguns "distúrbios" emocionais
No entanto esta transição do meio familiar para o meio escolar far-se-á, de uma         maneira geral, sem grandes problemas e a sua completa inserção neste novo quadro social é bem patente quando a criança deixa de afirmar, "o meu pai disse" e passa a contrapor mesmo às opiniões dos pais, "o meu professor disse". 
A criança está, por assim dizer, apta a entrar ou a retirar-se dos grupos  em função dos fins ou interesses que lhe são permitidos escolher. O grupo, não é mais um grupo necessário, um grupo dado, um grupo donde a criança não poderia abstrair-se como era o caso do grupo familiar. A criança passa a conceber o grupo em função das tarefas que este pode realizar, dos jogos nos quais ela pode participar, onde pode contestar e gerir os conflitos. Sucede, por vezes, conceber um grupo hipotético, idealizado e realizado por si e onde ela é poderá ser o "líder" que tudo pode e tudo manda.
Há no entanto nesta evolução toda uma série de fases. Numa primeira podemos constatar que a actividade de conjunto não existe, pois as crianças embora brincando próximas umas das outras desenvolvem actividades isoladas. Na fase seguinte o grupo já resulta de uma participação de todos os elementos e passa a existir solidariedade e cooperação. É deste modo que se estabelecem relações recíprocas entre o grupo e a criança Ela pode querer entrar para o grupo ou recusar-se a entrar, mas este pode igualmente aceitá-la ou não. Passa a querer ser aceite por grupos de crianças mais velhas, mas que geralmente a rejeitam.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O papel da família

Família é contexto natural para crescer
Família é complexidade
Família é teia de laços sanguíneos e sobretudo de laços afectivos
Família gera amor, gera sofrimento
A Família vive-se. Conhece-se. Reconhece-se.

Fui criança e filho e fui pai e fui avô e neto e, a cada dia que passa, lembro-me: um abraço, um beijo, um afago, o sol da manhã, um almoço em família, o vento no rosto, a chuva que molha, um sorriso, uma boa lembrança de ti… família!
            A família é o sistema de base de todas as sociedades, é um fenómeno universal ligado à estrutura biológica do ser humano, é a instituição que lhe permite sobreviver e desenvolver-se.
            A família tem como funções fundamentais; assegurar e promover o desenvolvimento da criança, correspondendo às suas necessidades, nas diferentes fases da sua evolução; tem a função de organizar a dinâmica familiar de forma a constituir um quadro que dê à criança estabilidade afectiva e social, na qual se estruturará a sua personalidade, canalizando e direccionando o seu desenvolvimento até à sua maturação e; como grupo social tem a função de iniciar a criança nos seus papéis sociais essenciais e garantir ao mesmo tempo a transmissão de valores e saberes de geração em geração.
            A criança nasce imatura completamente dependente sendo à família que compete a satisfação das suas necessidades fisiológicas, de afecto e segurança, adoptando as suas respostas às necessidades por ela sentidas.
A família deve organizar-se como matriz, como continuidade no desenvolvimento da criança para que esta possa prosseguir com êxito a caminhada da vida.
O sistema familiar constitui um grupo de um género muito particular, porque tem características que lhe são impostas pelas diferenças sexuais dos seus elementos e papéis que lhe estão destinados. A célula familiar é composta por duas gerações na qual cada elemento tem as suas necessidades, inicialmente cresceram em duas famílias diferentes e fundiram-se numa nova e única célula que também difere da família de origem exigindo maleabilidade da parte de ambos. Os dois sexos são educados para se completarem nas tarefas que desempenham, na sua relação amorosa e na educação dos filhos.
            Normalmente os esposos dependem um do outro, mas os filhos dependem dos pais. É de extrema importância todo o ambiente que envolve a família, a forma como os pais se relacionam entre si e com a criança, como desempenham os seus papéis e os representam, porque é a partir da qualidade afectiva dessa relação que a criança vai organizando e estruturando a sua personalidade. Os pais são os primeiros objectos de afeição e amor por parte dos filhos, assim a sua relação deve constituir uma coligação coerente e bem sucedida pois é com eles que a criança se identifica não só porque são adultos e estão próximos, mas pelos laços que estabelecem e pela forma como se dão.
Hoje a família é considerada um círculo permeável e em constante permuta com o exterior, cujo grau de abertura e fecho lhe permite filtrar a informação de fora para dentro e entre os diversos elementos da família preservando a sua identidade, adoptando modelos centrípetos ou centrífugos, sendo o equilíbrio entre estes dois modelos o melhor para um crescimento harmonioso.
Segundo Meltzer (1986) «as funções básicas de uma família são; gerar o amor, promover a esperança, conter os sentimentos depressivos e organizar o pensamento.»
Contudo, sabemos que hoje existem famílias em que essas funções não são asseguradas. Nem sempre os elementos de um sistema familiar se articulam, interagem e se organizam desempenhando ajustadamente as funções ou papeis que à partida lhe estavam destinados.
Há também famílias que optam por padrões confusos de relações entre pais e filhos, em que os primeiros se demitem das suas funções, contribuindo assim para a não diferenciação das duas gerações e conduzindo a uma ausência de modelos para a criança.
Perante situações como as que acabámos de descrever, encontramos crianças a viver no vazio de um universo de relações, à procura de uma identidade própria, sem vontade de aprender, sem vontade de crescer. Podemos assim concluir que uma criança existe em função da sua família e tudo começa antes do nascimento, depois é alimentar, sustentar o amor que se constrói no primeiro momento, fortalecendo-o em cada marca da sua evolução e ao longo das diferentes etapas do seu desenvolvimento.
            Falando de emoções, Pedro Sreth (1995) diz-nos que «as emoções com os afectos devem ser a base de toda a aprendizagem. É que as coisas são primeiro investidas, só depois intuídas e finalmente percebidas. Aprenderá, quem estiver afectiva e sentimentalmente estimulado».
Crer. Sentir. Perceber. Aceitar. Sonhar… Eu sou o que penso, sou o que sou e… sou família, sou filho, sou irmão e namorado. Eu sou tudo. Eu sou nada mas… ou sou família.


sábado, 20 de novembro de 2010

O papel da educação

Penso que já é um lugar-comum afirmar-se que o mundo está a enfrentar uma profunda crise que afecta a nossa vida nas suas múltiplas dimensões: saúde, meio ambiente, relações sociais, economia, política, educação, tecnologia...
Tal crise exige um Homem integral, ou seja, um cidadão autónomo, crítico e criador capaz de construir uma sociedade moderna e democrática, de homens livres e de cidadãos conscientes. Só esse Homem será capaz de assumir a responsabilidade de realizar uma profunda transformação na sua relação com o planeta Terra e com todos os homens. Na verdade, a possibilidade de transformação é a possibilidade da própria vida.
Por cidadão entende-se aquele que participa na vida comunitária, cumprindo os seus deveres, exigindo os seus direitos, usufruindo dos seus espaços, questionando os seus valores, construindo, enfim, uma sociedade mais justa, mais solidária, mais humana.
Esse cidadão deverá ser educado e formado para ser autónomo, do ponto de vista moral, o que significa ser capaz de agir a partir de valores morais, conscientemente assumidos como os mais correctos; para ser crítico o que significa saber discernir o que é significativo em cada situação, para poder optar pelo melhor caminho na construção de sua própria vida e da sociedade a que pertence e; para ser criador o que implica ser capaz de fazer avançar o conhecimento, de forma a poder transformar ambiente.
Para chegarmos a esse Homem, a Educação assume um papel de relevância e a finalidade do conhecimento passa a ser colaborar na formação do educando na sua globalidade: consciência, carácter, cidadania.
            A Educação deve garantir os instrumentos para uma inserção participativa e transformadora na sociedade, o que significa o domínio da leitura e da escrita, o acesso de forma crítica ao conhecimento elaborado, a vivência de formas de participação e a construção de valores.
Deve ainda contribuir para a descoberta progressiva do outro; promover, ao longo da vida, a participação em projectos comuns, como sejam projectos de cooperação, no campo das diversas actividades, desportivas, culturais, sociais... contribuir para que a criança cresça e viva em liberdade, compreendendo-a, respeitando as suas vivências, a sua espontaneidade e, sobretudo, a liberdade de se manifestar como deseja, de pensar, de agir, de sonhar e de criar.
Assim sendo, penso que, todos juntos, pais, educadores, professores, sociedade em geral e o Estado em particular, devem caminhar, de mãos dadas, em busca deste desígnio educativo.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Uma ideia de projecto escolar

Entendemos que o desenvolvimento do indivíduo se dá de acordo com as experiências vividas, de acordo com as situações que ele tem possibilidade de experimentar. Por exemplo, indivíduos que têm contacto mais frequente com a música e a arte de um modo geral, têm mais hipóteses de se interessar por estas formas de expressão que outros que não têm a mesma oportunidade.
Significa dizer que as experiências que o indivíduo vive, antes e durante a escola, são relevantes para o seu desenvolvimento independentemente de sua idade. Portanto, a escola não é a única, mas uma das mais importantes experiências no desenvolvimento do ser humano.
Nesse sentido é necessário valorizar a experiência que o educando tem acumulado na sua vida para dela partir para uma sistematização mais rigorosa do conhecimento. Isso não sugere ficar neste ponto de partida nem tão pouco ignorá-lo.
A organização da escola, determinada por conteúdos pré-estabelecidos, inquestionáveis na sua sequência, com acções pedagógicas que privilegiam a memorização, não favorece a construção plena do educando. A argumentação de que se precisa "dar os conteúdos" até o final do ano lectivo tem favorecido que, enquanto professores, deixemos de valorizar aquilo que é essência do trabalho educativo, a capacidade do apreender, do compreender, do instrumentalizar-se para aprender. Não se trata de desmerecer os conteúdos e nem de minimizar o trabalho na escola. Ao contrário, trata-se de trocar o "faz-de-conta que se ensina e o faz-de-conta que a criança aprende" pela preocupação real, sincera, de facto comprometida com a construção desses conhecimentos, tendo por base o "preparar para a vida".
O desafio que se nos coloca é o de reflectir e fortalecer o papel social da escola através de um processo de construção do conhecimento, actuando na formação do indivíduo em toda a sua globalidade, sem perder de vista nenhum de seus estágios de formação.
Penso que se torna necessário elaborar projectos escolares que, partindo escola e tendo em consideração a diversidade dos alunos, possam recorrer a propostas flexíveis e variadas de ensino /aprendizagem para que os alunos tenham oportunidade de atingir não só os saberes e culturas veiculadas pela escola mas, igualmente, partindo do seu meio sócio - cultural, dos seus saberes, das suas tradições específicas, consciencializar a criança para as suas raízes, contribuindo para o seu sucesso escolar e na vida.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Educar as crianças

Há um pensamento sábio que um dia aprendi, também com uma pessoa sábia, e que diz: “ o sorriso é o idioma do amor universal: até as crianças entendem."
Também, em tempos, li que "não se devem educar as crianças pela força e pela dureza, mas sim levá-las por aquilo que as diverte, de maneira a que possam distinguir melhor o que mais as interessa e descobrir quais as suas inclinações". Quem escreveu este pensamento foi Platão.
Hoje, as suas palavras estão tão actuais como então o que, em contraste com o fenómeno da globalização da economia mundial e consequente necessidade de uma enorme competência por parte do cidadão, não deixa de ser um enorme desafio às escolas, aos professores e à comunidade em geral, no sentido do Educar e Formar, tendo em conta a necessidade da construção de aprendizagens fundamentais, tais como aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser, alicerçado no que diverte, entusiasma e motiva a criança, e no facto de que a inteligência não se desenvolve dissociada da afectividade.
A importância do papel do professor enquanto agente de mudança, favorecendo a compreensão mútua e a tolerância, nunca foi tão visível como hoje. As suas responsabilidades são cada vez maiores, sendo a sua contribuição fulcral para levar as crianças e jovens, não só a encarar o futuro com confiança mas, igualmente, a construí-lo por si mesmos de maneira determinada e responsável, compreendendo e dominando o fenómeno da globalização. Ao professor, compete-lhe despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia, estimular o rigor intelectual e criar condições necessárias para o sucesso da educação e formação permanente, sem perder de vista os valores morais e culturais de um povo e de uma Nação.
Penso que tem que haver a consciência de que as formas de organização e de gestão da educação, não são fins em si mesmo, mas instrumentos cujo valor e eficácia dependem, em grande medida, do contexto político, económico, social e cultural, pelo que se torna necessário um empenhamento, cada vez profícuo, para que se criem condições para uma melhor e maior cooperação entre Autarquia, Professores, Pais e Comunidades Locais.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Crescer e aprender com os pais

“Prepara-te para o que quiseres ser." Este é, sem dúvida, um pensamento sábio! Quando aplicado às crianças e à sua vida familiar torna ainda mais importante!
Começar bem é importante, isto é, iniciar uma existência num clima de amor e afecto é fundamental para que a criança possa subir degrau a degrau a escada do seu crescimento.
Crescendo e aprendendo na sua relação com os pais e com todos os limites que vão sendo introduzidos, a criança vai, seguramente, construindo a sua autonomia.
A entrada na escola exige da criança uma certa autonomia, pressupondo que esta esteja preparada para se movimentar num novo meio, onde pensa e sente por si própria e ao mesmo tempo capaz de enfrentar situações por ela até então desconhecidas.
A entrada na escola, ou mesmo antes no jardim-de-infância e a adaptação da criança ao novo meio, depende sobretudo dos pais, isto é, da forma como vivem este momento. Tal como para a criança, também para os pais, esta etapa representa uma separação que será tanto mais suave quanto maior for a capacidade dos pais em (re) assegurarem a criança.
É o início de um longo processo que conduzirá a criança a ter uma vida própria, o que pode provocar nos pais sentimentos de ambivalência. Por um lado, felizes por verem um filho a crescer por outro, porque crescer pode ser o sinónimo de separação/perda, (se cresce, já não precisa de mim!).
         Esta fase assume também particular importância para os pais, na medida em que pode trazer-lhes de volta os problemas da sua própria infância, quando passaram por esta experiência, ou ainda de uma forma inconsciente, fazer emergir os seus desejos insatisfeitos e pretender que sejam os filhos a fazer tudo o que eles próprios deixaram por fazer, apropriando-se assim da sua infância, condicionando-a em vez de ajudar a que eles se tornem no que realmente querem ser.
No sentido de uma melhor compreensão, os pais também se colocam muitas vezes no lugar da criança, tentam perceber as coisas sob o seu ponto de vista, reportando-se até a situações semelhantes por eles vividas. A partir daí aceitam melhor as suas atitudes, fortalecendo cada vez mais os laços entre si. Os pais crescem com os filhos.
O papel desempenhado pelos pais, à entrada da criança na escola, está estritamente ligado a toda a relação construída e vivida até então. Se a relação foi boa, as experiências escolares vão dar continuidade à edificação de uma auto-imagem de boa qualidade. Se tem dentro de si o amor incondicional dos pais, a criança deseja agora fazer tudo bem, perfeito, sentir-se a “melhor”, elevando assim a sua auto-estima.
         Pelo contrário, uma criança que não viveu uma boa relação, que não tem o seu mundo interior povoado de coisas boas, se está só...e triste, será o sinal de que estes passos não foram verdadeiramente preenchidos. Esta criança está a despertar nos pais o sexto sentido, o pedido de ajuda.
         Pais: ajudem os vossos filhos a crescer; pais ajudem os vossos filhos a ser felizes; pais ajudem os vossos filhos a caminhar, mesmo que o caminho vos pareça difícil, não caminhem por eles mas… com eles!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

De volta aos afectos

Estou de volta aos afectos e, sobretudo, estou de volta à afectividade no processo de aprendizagem das crianças.
E  estou de volta porque, a cada dia que passa, tenho a convição que se quer “empurrar” os professores para o campo do cognitivo, relegando a afectividade para um plano secundário. Infelizmente os professores deixam-se ir no “empurrão” e, por vezes, até gostam dele.
Nos dias de hoje, o professor não pode ser apenas aquele que transmite conhecimentos mas, sobretudo, aquele que auxilia o aluno no processo da construção dos saberes. Para tal, é imprescindível que domine não apenas o conteúdo da sua área específica mas, igualmente, as metodologias e a didática correcta na missão de organizar o acesso ao saber dos alunos. E não apenas o saber de determinadas matérias, mas o saber da e para a vida; o saber ser-se pessoa com ética, dignidade, valorizando a vida, o meio ambiente, a cultura. Muito mais que transmitir conteúdos curriculares, organizados e programados para o desenvolvimento intelectual da pessoa, é preciso ensinar-se a ser cidadão, mostrar quais são os direitos e os deveres e motivando para a sua defesa. É importante  que o professor trabalhe os valores, fazendo com que o aluno perceba  o outro; perceba quem está à sua volta e; que saiba a importância de respeitar, ouvir, ajudar e amar o próximo.
A função do professor é, sem dúvida, promover a aprendizagem dos alunos. Mas, para tal há que envolvê-los, mobilizando os seus processos de pensamentos, explorando todas as suas capacidades, fazer e refazer caminhos, criar, renovar e recriar procedimentos, entender que cada criança e jovem são únicos.
Ao professor pede-se que entenda que o sujeito se constrói a partir das relações entre um mundo externo, estruturado pela cultura e pelas condições históricas, e por um mundo interno, não somente no aspecto cognitivo mas afectivo, que envolve desejos, impulsos, sentimentos e emoções.
Para haver aprendizagem deve haver troca, e para haver troca, esta deve estar impregnada de afecto. Precisamos não só ensinar o currículo, mas ensinar a amar, a ter empatia com o outro, e isso só é possível através do afecto e da afectividade. Para isso precisamos do lúdico, pois é a através do lúdico que podemos ensinar com afecto.
Assim como a criança e o jovem precisam aprender a ser felizes e a descobrir o prazer de aprender, também os educadores e os professores têm o “dever” de ser felizes e de transmitir tal felicidade para que, com esta, consigam contagiar os seus alunos.
Pelo que li, pelo que estudei, pelo que investiguei e, sobretudo pelo que tenho vivenciado como pai, como professor…, posso afirmar que o vínculo afectivo quando presente torna diferente a relação do sujeito com o aprender, propicia-lhe a oportunidade de ser visto com competências e olhado com possibilidades e respeito.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os Direitos da Criança (II)

A criança é, mesmo que sem voz, embora tenha direito a ela, a voz da nossa esperança. As distintas representações da infância têm-na caracterizado por traços negativos, mais do que pela definição de conteúdos (biológicos ou simbólicos) específicos. A criança é, ainda hoje, considerada como um “não-adulto” e este olhar, digamos, “adultocêntrico” sobre a infância, regista a ausência, a incompletude ou a negação das características de um ser humano “completo”. A infância, como a idade do não, está inscrita desde o étimo da palavra latina que designa esta geração: in-fanso que não fala.
Importa, por isso, dar a cada criança o direito de viver em autenticidade, integralidade e sem hiatos bruscos a sua própria infância. Importa promover, e proteger os seus direitos.
 A tarefa de atribuir direitos à criança tem tido um longo, e muitas vezes difícil caminho, quer devido à lenta consciencialização da sociedade acerca de tal necessidade, quer devido às dificuldades que se colocam à interpretação e aplicação de direitos para as crianças em contextos culturais diversos e em épocas históricas distintas.
É entendimento, mais ou menos consensual, de que existem três grandes grupos de direitos da criança: direito de ser criança; direito de pertença ou direito às raízes e; direito ao desenvolvimento harmonioso.
Num primeiro grupo está o direito ao tempo de ser criança (onde se inclui a protecção contra o trabalho infantil), o direito de brincar (que leva a criança a aprender a respeitar as regras, a ser paciente e a saber partilhar), o direito à felicidade e o direito a ser titular de direitos.
Num segundo grupo está o direito à família, (família de afecto que não necessariamente a família biológica,) o direito à escola e o direito à comunidade.
Num terceiro grupo está o direito ao desenvolvimento harmonioso, o direito a ser ouvida e a ter opinião, o direito à autoridade, à disciplina, à hierarquia, para que possa compreender o que é o bem e o mal.
Pela Convenção dos Direitos da Criança emergiu uma nova concepção social da infância, pela assunção das crianças como sujeitos activos, participativos e co-responsáveis pelo processo de educação.
Actualmente a criança é considerada um ser autónomo e completo e, portanto, portador de uma Cultura própria. Se antes a criança era um objecto de direito, hoje é um sujeito de direito. Longe vão os tempos, felizmente, em que era vista quase como propriedade dos pais; pelo contrário hoje estamos sob a existência de uma verdadeira Cultura da criança, em que se exige que a responsabilidade parental seja exercida sempre no sentido dos seus interesses.
Todos juntos, unidos em torno desta responsabilidade, vamos, com toda a certeza, conseguir que as nossas crianças sejam FELIZES.  

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Os Direitos da Criança

"O recém-nascido é esperança. A criança começa a vida por um sorriso para a sua mãe. Um sorriso de esperança. Depois é a esperança da juventude, o impulso para o futuro. Mas quando este impulso cessa e a esperança falha, então o presente recai na melancolia. A esperança é a maior e a mais difícil vitória que uma pessoa pode ter sobre a sua alma"Jean Guitton
      Celebrámos a 20 de Novembro de 2009 os 20 anos da Convenção dos Direitos da Criança que, a pare da Convenção dos Direitos do Homem, marcaram, em definitivo, a afirmação civilizacional do ser humano e os fundamentos da liberdade e da justiça no Mundo.
    Pela Convenção dos Direitos da Criança esta viu, finalmente, reconhecido não só o estatuto social de cidadã, titular da universalidade dos Direitos Humanos, como também ganhou o direito à integridade, à dignidade, à igualdade e à não discriminação.
     A família e a sociedade têm uma responsabilidade directa na educação, formação e desenvolvimento da criança dado que em ambas, através dos mitos, ritos e regras sociais, adquirimos o sentido da vida, sendo as referências oferecidas por essa cultura que nos proporcionam a noção de pertença. Saber que se pertence a alguém e a um lugar proporciona à pessoa um referencial de valor significativo.
    Numa sociedade solidária, saudável e cidadã, os seus membros nunca estão sós, dado que o desejo de cuidar de si, do outro e do nós assenta na ética das relações entre as pessoas ressaltando o facto de que quando melhor o outro estiver, melhores estaremos todos.
     Assim sendo cuidar das nossas crianças a níveis diversos é um acto de cidadania de extrema importância e significado.
    E…todas as crianças necessitam de consolo, de braços que abracem, de ouvir histórias aconchegadas num colo, de receber carícias, de um tom de voz agradável e suave, de sorrisos sinceros, de que sejam justos para com ela, que não a deixem fazer tudo aquilo que quer, que lhe digam sim mas igualmente não porque os limites devem ser entendidos desde cedo, que a entendam e a incentivem a entender os outros, que a ouçam e que possa ouvir os outros, que… lhe digam muitos vezes que a amam e que é importante para os seus para que não tenha disso dúvidas e cresça feliz.
     Pais: a presença de afecto e equilíbrio, ao lado dos estímulos para desenvolver a inteligência e a aprendizagem é, no meu ponto de vista, o principal direito das crianças. Mais do que tudo, palavras de encorajamento e incentivo são palavras importantes e necessárias. Os especialistas afirmam que é mais importante a forma de oferecer o estímulo do que a sua adequação ou sofisticação, e que é o desenvolvimento emocional que impulsiona o intelectual. Assim, crianças confiantes e seguras terão aprendizagens mais eficientes e tranquilas e, forçosamente, vidas com sentido.
    Pais: em nome das crianças do mundo atrevo-me a pedir-vos (o que peço igualmente a mim mesmo) o direito dos direitos: amor. Não apenas afagos e carícias, brinquedos e viagens, mas também a luz do entendimento, a educação, bons exemplos, palavras amigas e o reconhecimento das suas reais necessidades.

domingo, 7 de novembro de 2010

Bebidas alcoólicas: tolerância zero

Há dias uma mãe, deveras aflita, contava-me que, em determinado restaurante e aquando da realização de festas de confraternização entre jovens com treze catorze anos se vendiam, sem qualquer constrangimento, bebidas alcoólicas a estas crianças. Denunciei. Mas não valeu de nada pois, e desta vez um pai, disse-me que tal prática continua. MAS É PROIBIDO. Pois é mas, provavelmente, o “crime compensa”. DENUNCIAREI.
A Organização Mundial de Saúde e tendo por base a sua estratégia para o plano “Saúde para todos em 2015” aponta para uma necessidade da diminuição do consumo de álcool a 6 litros per capita por ano para a população de 15 ou mais anos, bem como o de reduzir o consumo de álcool na população de 15 ou menos anos até ao limiar de 0%.
Por este andar nem no ano de 2050!
Ao contrário do que muitos acreditavam no passado, na fase de transição entre a infância e a vida adulta, o sistema nervoso central dos jovens ainda se encontra em desenvolvimento. Desta maneira, as suas vias neuronais podem-se tornar mais susceptíveis aos danos causados pelo álcool, levando ao comprometimento de várias funções. Num período repleto de mudanças físicas, psicológicas e sociais, sob os efeitos do álcool, os jovens ficam mais propensos a comportamentos de risco.
São vários os estudos que nos falam sobre os problemas das perturbações da saúde nas crianças e jovens pelo facto de ingerirem bebidas alcoólicas. Referem esses estudos o quão é preocupante o impacto do consumo de álcool no desenvolvimento cognitivo e psicossocial das crianças e jovens, contribuindo, acentuadamente, para as perturbações psiquiátricas e comprometimentos a nível da Saúde Mental, já que o álcool é considerado uma droga do tipo depressora, pois diminui a actividade cerebral. Por outro lado existe a probabilidade de virem a ter comportamentos desviantes e o consumo excessivo interfere com as fases normais do processo de desenvolvimento em curso.
A ingestão de álcool pode ter repercussões directas no sucesso escolar, já que o cérebro leva mais de uma semana para se recuperar do efeito do álcool, o que quer dizer que nos dias seguintes a pessoa vai ter dificuldades me memorizar e compreender conceitos.
Importa mostrar às crianças, desde a mais tenra idade, que as festas e as diversões não dependem do álcool, embora o possam incluir. Os pais devem explicar os efeitos da bebida em excesso e os problemas associados ao alcoolismo, pois falar com os filhos sobre os riscos de beber pode ajudá-los a crescer e desenvolver uma relação mais segura com o álcool.
E, muito importante: dar o exemplo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A Vinculação

O ser humano (e não só) está geneticamente programado para se ligar aos seus cuidadores, que se tornarão em figuras de vinculação.
A vinculação é, segundo alguns especialistas, o laço afectivo que se estabelece entre a criança e uma figura específica (figura de vinculação) e une ambos num determinado espaço e perdura no tempo (relação de vinculação), expressando-se através de uma necessidade inata de manter a proximidade (comportamento de vinculação). Por outro lado, permite a construção de uma sensação de conforto bem com de segurança, sendo, portanto, essencial ao desenvolvimento pessoal e social do indivíduo.
John Bowlby, diz-nos que qualquer perturbação no vínculo inicial da criança à família e em especial à mãe vai tornar a pessoa mais insegura na sua emotividade, na vida futura. A separação é psicologicamente perigosa, pois a continuidade da relação da criança com a primeira figura de vinculação é um elemento necessário para a saúde mental básica da criança.
O vínculo é um factor determinante na vida de uma criança. No entanto, esta relação pode ser positiva ou negativa e poderá trazer consigo marcas definitivas, na vida de uma criança.
Segundo o psicólogo Eduardo Sá, as crianças sem colo, abandonadas e que cresceram sozinhas, conhecem-se pelos olhos. "Basta olhar para os olhos delas." São os olhos apelativos, cativantes, que procuram constantemente um contacto ou estão sempre a pedir colo e agarram-se a nós mal lhes damos atenção, ou então parecem ouriços assustados com medo de se aproximarem demasiado.
A importância da vinculação é fundamental para assegurar o sentimento de continuidade que participa na construção da identidade; é através da vinculação, que a pessoa se define sendo os primeiros anos da existência do ser humano condicionantes face ao que será grande parte da sua vida futura como pessoa, como membro de uma família, de uma sociedade...; interacções com figuras de vinculação são essenciais para criar a comunicação colaborativa, contingente, sintonizada; estas interacções reguladoras das emoções são requeridas para a maturação influenciada pela experiência do cérebro social e emocional, em desenvolvimento.
A vinculação é considerada como um “sistema motivacional” básico, inato e biologicamente adaptativo que impulsiona a criança a criar vínculos selectivos na sua vida.
Assim sendo importa investir ao máximo nesta vinculação. Este investimento terá que acontecer nunca depois do início da gravidez, sendo os primeiros anos de vida fundamentais para que essa vinculção aconteça.
Não tem sido fácil passar a mensagem da importância deste període de vida da criança!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Afectividade/Aprendizagem

Mais uma vez vou falar de afectos. Há dias alguém me dizia, quando lhe falei da importância dos afectos na aprendizagem, que o problema das dificuldades cognitivas das nossas crianças, nada tem a ver com a afectividade. Não discuti porque me lembrei de Donaldo Schüller, quando nos diz que “o que nos constitui homens é a palavra. Precisamos aprender a falar, para entender a necessidade do outro, para que as fronteiras sejam marcas de aproximação e não de divisão”.
Hoje olhando o céu e vendo o tempo ameno, com uma ligeira brisa que transportava até mim um cheiro a terra molhada, dei comigo a reflectir e a procurar entender o porquê daquela divergência.
Detenho-me por uns momentos, na quietude dos ventos e à espera da anunciada tempestade, no mundo dos conceitos que me ajudarão na reflexão sobre o facto, como nos disse João dos Santos, do funcionamento afectivo ser a base do funcionamento mental.
Vejamos: existem conhecimentos sem serem conhecimentos cognitivo-afectivos? Existirão conhecimentos exclusivamente cognitivos ou exclusivamente afectivos?
Tais perguntas poderão ter ambas as respostas conforme nos situemos do lado de Platão e Descartes, ou do lado de Piaget, Vygotsky, Wallon ou Damásio.
Na Grécia antiga Platão falou de uma suposta dicotomia entre a razão e a emoção, quando definiu como virtude a libertação e a troca de paixões, prazeres e valores individuais, pelo pensamento; Descartes deixou-nos a famosa afirmação “penso logo existo”, sugerindo a possibilidade de uma separação entre a razão e a emoção (Damásio veio há alguns anos desmenti-lo). Para ambos o pensamento tem um valor de excelência.
Vejamos agora, ainda que resumidamente, o que nos dizem os nossos psicólogos e o nosso neurocientista.
Piaget teorizou sobre o facto de que, não obstante as diferenças naturais, a afectividade e a cognição são inseparáveis em todas as acções simbólicas e sensório/motoras. Segundo ele toda acção e pensamento comportam um aspecto cognitivo, representado pelas estruturas mentais, e um aspecto afectivo, representado por um dinamismo, que é a afectividades. Assim não existem estados afectivos sem elementos cognitivos, como não existem comportamentos puramente cognitivos.
Vygotsky diz-nos que as emoções se integram no funcionamento mental geral, tendo uma participação activa na sua configuração. As bases orgânicas sobre as quais as emoções humanas se desenvolvem estão no desenvolvimento da linguagem - sistema simbólico básico de todos os grupos humanos, os quais são fundamentais para compreender as origens do psiquismo, ou seja, um modo de compreender o mundo, de se compreender diante e a partir dele e de se relacionar com ele.
Na perspectiva genética de Wallon, a inteligência e a afectividade estão integradas: a evolução da afectividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a evolução da inteligência depende das construções afectivas.
Damásio, (na sua obra “O erro de Descartes” (1996), fala da existência de uma forte interacção entre a razão e as emoções, defendendo a ideia de que os sentimentos e as emoções são uma percepção directa de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência.
Com um sol de meio do dia a reflectir na passagem húmida, criando um efeito de luz difusa e intensa que diluí dela as suas cores (mas não da mente), questiono-me: "por que será que os alunos têm dificuldades em aprender? O sistema de avaliação não é bom? A qualificação dos professores é insuficiente? As metodologias usadas são as mais correctas? Que conteúdos devemos ensinar? O nível dos alunos baixou?
Mas… será que na escola há tempo para conhecer as crianças e jovens? (como se chamam [por vezes chamamos António ao Toni e ele não responde]; de onde vêm; quem são os seus pais; que infância tiveram; quais os seus passatempos ou brincadeiras preferidas, etc.).
Podem ser “pequenos pormenores” mas são aspectos fundamentais para que se estabeleça a necessária relação afectiva. (Há dias, um professor amigo, queixava-se de que a sua turma de 1ºano do Ensino Básico era muito difícil e indisciplinada. Perguntei-lhe o que estava a dar em termos de programação e percebi que já ia nos ditongos. E jogos de integração fizeste? E tempo para os conheceres, para eles te conhecerem e para se conhecerem uns aos outro tiveste. Não. As aprendizagens programáticas levam-lhe o tempo todo!)
Na minha modesta opinião, mas alicerçada nos teóricos que mencionei, entre outros, é isto que precisa ser revisto, debatido, reflectido. A relação afectiva professor/aluno reflecte, forçosamente, bons resultados nas aprendizagem.
Terminando como comecei citarei mais uma vez João dos Santos. Diz-nos ele: “o afecto é a base da educação e do sucesso na aprendizagem…sendo o desenvolvimento afectivo e intelectual inseparáveis”.
E a paisagem é agora “assombrada” pela tempestade mas… “não há bela sem senão”, eis que surge, ao longe… o arco-íris!